Nos últimos 15 meses a humanidade foi jogada em um abismo de incertezas. De uma hora para outra tivemos que nos sujeitar a confinamentos, mudanças de hábitos, adoção de protocolos. Por alguns momentos, e pelo bem comum, fomos obrigados a obedecer ao lockdown, rigoroso modelo de contenção de deslocamento das pessoas para evitar o contágio do mal que caiu sobre todos.
Passamos a viver com o medo, a desconfiança com o outro. Nações inteiras subjugadas por um inimigo invisível, que poderia estar em qualquer parte. Ficamos reféns. Ainda que livres, estávamos presos psicologicamente, arredios a tudo e a todos. Quase um ano de tormento em um voo cego, sob um céu escuro e sem estrelas.
Mas Deus deu sabedoria ao ser humano para que este possa evoluir e pela primeira vez na história a ciência conseguiu dar um salto gigantesco em favor da vida. Aproximadamente um ano se passou entre tubos de ensaios, testes e comprovação da eficácia da vacina.
A esperança voltou a pairar sobre nós, o céu nublado se abriu e renovamos a confiança como um sentimento que nos motiva a levantar todos os dias e seguir firmes. A vacina já é uma realidade, pelo menos para a maioria das nações. Embora não se possa, naturalmente, ignorar que a mesma ainda não chegou para grande parte da população carente que vive sobre o globo.
No Brasil, venceram os gritos vindos das ruas, a medicina, a sabedoria de alguns, que mesmo diante de uma postura negacionista, souberam “driblar” os obstáculos e trouxeram a vacina a nós brasileiros. A ciência prevaleceu. A vacina começou chegar também por aqui.
Apesar de tudo que fora visto até o momento e de ser esta uma campanha de vacinação atípica, quase que no regime de um treinamento de guerra, ainda há muito o que avançar e ser esclarecido sobre a vacina.
Diferentemente de outras épocas e campanhas, pouco vimos e vemos ações de orientação voltadas à população, como forma de dar segurança aos cidadãos. Ora, uma nação sem comandante, ou sendo este um desqualificado para a condução dos rumos, corre o risco de ficar a deriva.
Daí porque toda oportunidade que os cidadãos de bem e conscientes tiverem de compartilhar os benefícios da medicina com o outro deve ser aproveitada. Neste momento, vacina é sinônimo de vida, de continuidade.
Basta de mortes, de sofrimento, de perdas. Você que lê este artigo certamente tem um parente ou um amigo que se foi, que sofreu ou está sofrendo com o carma que nos assola. Por que, então, correr riscos, quando temos ao nosso alcance o antídoto.
Não se vacinar é voar intencionalmente rumo à fatalidade. Isso me recorda a famosa e verídica história dos pilotos camicases, que faziam parte da armada japonesa na guerra contra os aliado durante a Segunda Guerra Mundial.
Para quem não conhece o episódio, cumpre aqui rememorar. Esses pilotos, em ato de total desespero, ao fim daquele conflito bélico, começaram a utilizar seus próprios aviões carregados de explosivos como armas mortais, lançando-os contra os navios dos Aliados.
Naturalmente, tal ato suicida não poderia ter outro resultado que não a morte daquele que ia de encontro às embarcações. Essa conduta não pode ser vista como razoável hoje, muito menos quando vem de alguém que ao invés de segurar o manche e assumir o controle, insiste em um voo sem rumo ao fatídico destino.
Fica aqui o respeito à comunidade nipônica que vive no Brasil, povo que carrega singulares valores éticos e sociais. A história serve apenas como um recorte de um momento triste da humanidade e serve para ilustrar, metaforicamente, o que temos a enfrentar hoje e juntos.
Nossa guerra, agora, é outra. Se naquela oportunidade as nações se dividiram, buscaram subjugar outros povos e tentaram avançar com um modelo imperialista e de dominação de uns sobre outros, as batalhas atuais devem ser enfrentadas conjuntamente. A principal arma? A vacina.
Efeitos colaterais são possíveis? Sim! Em alguns casos pode ocorrer. Mas não se pode dar credibilidade a um batalhão de calhordas que espalham um sem número de fake news contra os benefícios da cura.
Apenas uma dose basta? Não! A vacina deve ser aplicada em duas doses e, ainda assim, existe um tempo pós-vacinação para que o organismo possa efetivamente estar preparado para resistir ao vírus e às suas mutações.
Por isso, a medicina insiste na manutenção das medidas preventivas mesmo após tomadas as duas doses, abominando o senso comum de alguns que já pregam abandonar os protocolos sanitários.
Para os mais céticos, e é natural que estes existam, insisto na busca de informações. Leiam, busquem fontes confiáveis e sérias, preferencialmente fora das polarizadas redes sociais. Este é um momento em que deve prevalecer a razão.
A vacina é um ato que nos acompanha desde os primeiros momentos e que atravessou toda nossa infância. Certamente, você teve um dos seus primeiros choros com a famosa BCG, vacina que lhe protege para o resto da vida ao reagir contra a tubercolose pulmonar e outras formas mais graves dessa doença.
Vacina é vida. Uma, duas vezes, quantas forem necessárias. Parabéns para a ciência, do Brasil e do mundo, que comprova o seu valor frente a uma onda despretensiosa que insiste em nos levar a deriva noutra direção.
Osmar Gomes dos Santos, Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras