Sem sombra de dúvidas que a educação é algo deveras transformador na vida de qualquer cidadão. Acessar uma boa escola, ter bons professores, desenvolver atividades de forma coletiva possibilita o desenvolvimento integral do ser humano.
Para estabelecer esse paralelo, pretendo remontar meus tempos de menino, quando peregrinava pelas escolas da vida em minha amada Enseada Grande, povoado do município de Cajari. Até pouco tempo, aquela que vivi, era uma realidade presente na vida de milhares de conterrâneos, mas os ventos começaram a soprar.
Tomo como exemplo a realidade perpassada por mim quando dos ensaios aos primeiros rabiscos em minha tenra idade. A Casa, naquela ocasião a escola, nada tinha de engraçada, como dizia o poeta. Muitas vezes, com pés descalços, sentava-me no chão de terra batido, sob a palha velha do coqueiro, em sala multisseriada cercada pelas paredes de taipa.
Ah, algumas dessas paredes já comprometidas pela ação do tempo e de uma boa turma de cupins que ali trabalhavam incessantemente. No quadro, já bem gasto pelo tempo e uso, as tarefas eram divididas conforme a idade. Não havia merenda, as carteiras eram poucas e ficávamos sujeitos às mais diversas intempéries.
Nas temporadas de chuva, nem era necessário fazer a chamada, pois as goteiras se faziam presentes em todas as aulas, nunca levavam falta. Ficávamos a escolher quais os cantos da sala que podíamos sentar sem ser alvejado pela persistente goteira.
A época da estiagem o que mudava era a condição climática, mas as dificuldades persistiam. O calor escaldante nas épocas de estiagem, tal com a goteira, era presença marcante. Com frequência não tão assídua, soprava brisa leve e bandoleira, somente quando queria, fazendo-nos sofrer ainda mais para adquirir o aprendizado.
O único professor, seu José Cardoso ou a única professora, senhora Maria Aurea ou senhora Arabela, se empenhava ao máximo, mas as condições adversas impactavam na qualidade do ensino, situação que pode ter comprometido gerações inteiras que não tiveram a oportunidade de buscar outros horizontes.
Não pretendo ser determinista, mas não dá para dizer que o meio social não interfere no desenvolvimento da personalidade do indivíduo, podendo levá-lo a um ou outro caminho. Retórica barata daqueles que se encontram em zona de conforto.
Ao ver a realidade atual daquela mesma escola em que sentei no chão, lembrei com saudosismo dos tempos de infância. Telegrafei todos aqueles momentos ali experimentados, ainda que por pouco tempo, pois não tardou tive que rumar com minha família para a capital em busca de melhores oportunidades.
Os princípios que regem a administração pública, inclusive, ao cabo, nada mais buscam assegurar do que serviços de qualidade, levando dignidade às pessoas.
Essa deve ser a tônica dos gestores, não importa em qual dos poderes eles se enquadrem: atuar com probidade em prol da promoção da cidadania e bem-estar da população, possibilitando soluções para as inquietações quotidianas.
Hoje, ao ver no que aquela escola da minha Enseada Grande se transformou, meu coração palpita de felicidade e os olhos marejam de uma alegria que transborda a alma. Saudosista? Naturalmente, no sentido literal da palavra. Amo rememorar todos os acontecimentos e passagens que me permitiram chegar até aqui.
Não tenho palavras para descrever a felicidade que inunda meu ser ao saber que filhos, netos, daqueles com quem convivi, poderão ter um telhado descente, uma carteira para sentar e já não ter as goteiras e o calor como companhia.
Ao regressar ao meu povoado e lá encontrar aquela escola, não me contive. Entrei, analisei, olhava cada um dos quatro cantos da sala. Via aquelas cadeiras bonitas, um chão devidamente calçado com cerâmica, as paredes de alvenaria, rebocadas e pintadas, a cobertura de telhas, forro nas salas de aulas e todas elas climatizadas, exclamei intimamente: que sonho; que orgulho; que alegria.
Sentei de frente para a lousa, muito diferente daquela desgastada. Fechei os olhos e a brisa fria que soprava já não era aquela que teimava em ir embora. Agora ela é “fabricada” por um aparelho de ar condicionado. Como o bordão futebolístico que ganhou o Brasil: é “oto” patamar.
Decerto que o sorriso no rosto daquelas crianças que chegavam para estudar, não será um sorriso passageiro, mas a revelação do que há de mais puro e verdadeiro.
Educação é a base. Isso não se discute. Que muitas outras conquistas educacionais possam chegar aos quatro cantos do Maranhão e que o maranhense, em cada um dos 217 municípios possam sonhar em seu próprio chão, sem a necessidade de pôr o pé no mundo na busca de oportunidades.
Ao conversar com a minha amada esposa, Dra. Maria Félix, hoje prefeita do meu município e responsável por essa transformação em Cajari, ela foi enfática ao afirmar que foi para isso que se dispôs a entrar na política e foi com essa esperança de concretizar os sonhos das pessoas, que foi eleita, sendo mais enfática ainda ao afirmar que cada escola reformada ou construídas será entregue totalmente climatizada porque isso sim é dignidade, é integridade, é decência. E eu, então, me enchi de orgulho mais ainda e só agradeci a ela pelo compromisso, pela transparência, pela responsabilidade , pela seriedade na condução da coisa pública, nada de estranheza, tudo isso sempre foi esperado por fazer parte da vida da nossa família.
A oportunidade é agora, construída com bases sólidas na educação. Esse é um dever e responsabilidade de todos que querem construir uma nação melhor. A educação é um sorriso que não é passageiro, mas pleno, constante e transformador.
Osmar Gomes dos Santos, Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras