*Por Osmar Gomes dos Santos
Como prometido, encerro sequência de cinco escritos sobre Aluísio Azevedo dando ênfase ao seu lado jornalístico. É fato que este não é o ofício que mais marcou sua carreira, mas entendo que foi fundamental para desenvolver habilidades que contribuíram em outras frentes de trabalho.
O contato com as páginas de jornais se intensificou quando da sua ida para o Rio de Janeiro, onde já se encontrava seu irmão, Artur Azevedo, que hoje dá nome ao principal teatro maranhense.
Naquele momento, logrou êxito com sua habilidade para o desenho e a pintura. Trabalhou para os jornais O Fígaro, A Semana Ilustrada, O Mequetrefe e Zig-Zag, conforme se verifica na vasta biografia espalhada sobre o escritor.
Os rascunhos das cenas de romance foram preponderantes para despertar ainda mais interesse pela literatura, levando o maranhense a se aventurar pelo mundo dos contos e crônicas. Escritor destacado naquele cenário, sustentava-se, como poucos, apenas com seu trabalho literário.
Já em sua segunda passagem pela então capital do país, após forte crítica e resistência em sua terra natal devido à obra O Mulato e dos esforços para lançar o jornal anticlerical e abolicionista O Pensador, Azevedo dedica-se à produção de folhetins, uma forma de lhe garantir a sobrevivência.
Se for considerado o valor jornalístico de suas obras, estas se destacam pelo olhar social, pela leitura da realidade retratada. É neste ponto que enxergo, com mais evidência, essa marca de Azevedo.
Habilidade treinada, vez que nos intervalos de seus romances ditos “comerciais”, inclinava-se à pesquisa e produções naturalistas, já com um olhar mais apurado às problemáticas sociais.
Dedicou-se a analisar os agrupamentos humanos da periferia carioca, centro do país, diante de um projeto desenvolvimentista em curso, que priorizava o estrangeiro em detrimento dos valores nacionais. Abordagem destacada em Casa de Pensão e o Cortiço.
Para o escritor, metaforicamente falando, bastaram um lápis e uma folha de papel para manifestar seu inconformismo com a sociedade, lutar contra preconceito, retratar as vaidades, a ganância, o adultério, a hipocrisia, os costumes de gente humilde.
Escritor por opção ou por necessidade de se manter de forma independente em uma sociedade marcada pelas relações de poder, certo é que Azevedo abandona a carreira literária ao ingressar na vida diplomática.
No entanto, sua trajetória e seu nome já estavam marcados na galeria dos maiores literários brasileiros. Figura, com a mesma justiça que caracterizou suas obras, no rol dos imortais cujas obras definitivamente entraram para os anais da história de uma nação.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.