*Por Osmar Gomes dos Santos
Ao longo de décadas a nossa querida Lagoa da Jansen, ou Laguna, como alguns preferem, adotando o termo técnico, foi centro de calorosos debates. Extensão do mar na década de 1970, onde atravessávamos a nado para jogar bola na deserta Ponta D’Areia, sua ligação com a maré foi reduzida a um canal, regulado por uma comporta.
Justamente neste acesso, que nesta semana apresentou problema no funcionamento, que se faz a troca hídrica com o mar e o controle de vazão da quantidade de água represada na Lagoa. Com o mau funcionamento, o que era inimaginável aconteceu: a Lagoa da Jansen secou.
Em verdade, há muito tempo a Lagoa agoniza. A grande quantidade de esgoto, lançado nela ainda in natura, mesmo após tantas intervenções, serve de substrato para algumas algas, que se proliferam em excesso, morrem e exalam um mau cheiro que atinge toda a região.
Um lugar que foi palco de muitas atrações, espaço de empreendimentos em segmentos diversos, agora luta para se manter economicamente viável. Competição esta com a região vizinha da península, que recebe cada vez mais o aporte de novos negócios de lazer e gastronomia.
Na área da Lagoa, muitos bares, restaurantes, quiosques e outros pequenos negócios de seu entorno não resistiram. Outros, no entanto, ainda seguem na esperança de que uma intervenção séria devolva a vida para a Lagoa e todo o seu redor.
Ao que parece, aos olhos de alguns é muito mais conveniente seguir a cultura do deixar destruir para reconstruir. Como gestor público, que também sou, no humilde “quadrado” que me cabe no Judiciário, entendo que promover a manutenção é melhor e mais econômico que a recuperação.
Para muito além da perda financeira, uma vez que deixa de ser uma referência turística, um cartão postal, também há uma perda social e moral. A deterioração do espaço público contribui diretamente para a baixa autoestima da sociedade vinculada a ele diretamente.
A seca da Lagoa da Jansen parece sinalizar o ponto alto com o descaso e os cuidados com aquele espaço público, além de parecer um mau presságio para o que ainda poderá ocorrer se nenhuma ação substancial for feita.
Desde que revitalizada, no início da década de 2010, a Lagoa da Jansen passou a ser uma referência de lazer, prática esportiva, reunião de amigos, eventos culturais e artísticos.
Um espaço que guarda túneis de construções antigas e que pode esconder mistérios seculares. O magnetismo do Mirante, palco de um inigualável pôr-do-sol. Ciclovias e calçadões que eram convite para quem queria deixar em dia a saúde, nas caminhadas, corridas e pedaladas, diárias ou noturnas.
Embora seu projeto arquitetônico e paisagístico seja contemporâneo, em contraste com a secular história da “cidade velha” que fica acolá, a Lagoa se consolidou como um cartão postal da nossa Ilha Magnética.
Não é justo que na Semana do Meio Ambiente ela seja tomada como símbolo do abandono, fruto de descaso com a coisa pública.
É necessário que nos indignemos enquanto cidadãos, para que não prevaleça a inércia e a demora na resposta definitiva. Não somente quanto à comporta, mas a retomada completa do projeto de reurbanização do espaço, o que inclui evitar que continuem direcionando esgoto para a Lagoa.
Caso nada seja feito, em breve poderemos ter uma tragédia ambiental irreversível, que extinguirá o pouco que ainda resta de fauna e flora. Neste ponto, faço um apelo aos órgãos competentes como O Governo do Estado do Maranhão; o Ministério Público com atribuição ambiental; A defensoria Pública com atribuição ambiental; As Secretarias Estadual e Municipal do Meio Ambiente; As Universidades Federal, Estadual e Particulares e os movimento ativistas ambientais para que assumam suas posições e responsabilidades, mas conclamo, também, à toda sociedade civil para que abracemos a Lagoa, afinal de contas, ela é de todos nós.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Escritor; Cronista; Poeta. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.