*Por Osmar Gomes dos Santos
Desde que fora devastada pela Segunda Guerra Mundial a Europa entrou em um ciclo de reconstrução direcionado para o progresso, sob a bandeira comum da bandeira da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
A ideia da OTAN é a de que países aliados possam se proteger mutuamente, segundo o mantra de que um ataque contra um país membro atingiria todos os demais. Uma espécie de território virtual, que traria uma “pseudoproteção” contra eventuais ataques externos.
A guerra entre Rússia e Ucrânia, por exemplo, em tese, só ocorreu porque este último país buscava o ingresso na Organização, mas ainda em processo lento e sem previsão de solução. Tal ingresso traria a OTAN para bem perto da Rússia, algo não desejado por Moscow.
Desde a invasão russa na Ucrânia as tensões entre países vêm se ampliando. A novidade, agora, é a mudança de tom dos Estados Unidos em relação à Kiev, com Trump alterando a posição norte-americana e mantendo certa inclinação a Putin, que parece ganhar força.
Frente à ameaça iminente de ampliação das fronteiras russas sobre demais países europeus, líderes de nações do bloco já começaram a marcar posições mais firmes. Um dos discursos com maior potencial bélico foi o do presidente da França, Emmanuel Macron.
O líder francês elevou ainda mais a temperatura esta semana, ao dispor do arsenal nuclear para conter o que classificou de ameaça expansionista russa. Com essa fala, Macron pretende atrair demais países europeus para uma aliança ampla anti Moscow, ainda que sem o auxílio dos Estados Unidos.
Na prática, o discurso alerta para o fato de que a Europa sinaliza para limpar a poeira de seu arsenal bélico, especialmente o nuclear, mirando-os para Moscow. Além disso, a tendência é que seja verificada uma corrida armamentista para aparelhar países vizinhos às potências europeias.
O mesmo poderá ser visto do outro lado, na parte oriental, com Rússia liderando essa corrida, possivelmente com apoio de outras potências. O resultado, em qualquer proporção, é trágico para todo o mundo, sobretudo para a paz universal tão almejada.
Há pouco escrevi que deveríamos direcionar recursos não para as guerras, mas para solucionar problemas como desigualdade, fome, questões ambientais e sanitárias. Notadamente, com os rumos que as conversas estão tomando, esse desiderato está cada vez mais distante de ser alcançado.
É óbvio que a não se pode pactuar com o que a Rússia vem fazendo, tal como devemos destoar das razões que levaram Israel à destruição da Faixa de Gaza, independentemente das razões alegadas. Mas nem tudo deve ser resolvido no estampido da pólvora.
Por mais que a história tenha dado exemplos de como as nações se expandiram, penso que o cenário atual não comporta mais espaço ao imperialismo (não quero dizer com isso que um dia já tenha comportado). É preciso, acima de tudo, diálogo.
Os organismos internacionais, como a ONU e a própria OTAN, precisam atuar. Os corpos diplomáticos das nações precisam dialogar e encontrar soluções práticas que não sejam a de empunhar armas.
Enquanto isso não ocorre, a temperatura só aumenta em diversas fronteiras mundo afora, com destaque para o conflito no Velho Continente.
Para quem não acredita que um novo conflito em escala mundial possa ocorrer, digo cético, mas não pessimista: há homens bons, mas há homens maus. Em meio aos embates, muitos já estão prontos para assoprar as poeiras de seus mísseis balísticos, enquanto outros já estão com o dedo no gatilho.
Osmar Gomes dos Santos
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.