Por Osmar Gomes dos Santos
José Sarney Costa, o Zé Sarney, um nome, um homem, uma lenda, um imortal. Falar deste estadista é contar uma parte significativa da história do Brasil e do Maranhão, especialmente na arena política.
Nascido na Baixada Maranhense, aprofundou sua vivência social na capital do Maranhão, a São Luís de meados do século XX, quando ingressou na política, ainda nas fileiras estudantis do Liceu Maranhense.
Um político que alcançou façanhas que dificilmente será repetida por outro homem público. Em sua trajetória, foi deputado federal, governador do Maranhão, senador por dois estados; presidente do Senado e presidente do Brasil.
Esta semana, de forma merecida e diria “até” tardia, Sarney recebeu homenagem da Assembleia Legislativa. Por proposição do deputado Roberto Costa, a Medalha Manuel Beckman, a maior honraria do Parlamento Maranhense, repousou sobre o peito de José Sarney.
Não tenho pretensão aqui do oportunismo bajulador. Contrariamente, faço uma análise de reconhecimento à personalidade mais importante de nossa política atual. Apesar de sua “aposentadoria” da vida pública, suas marcas indeléveis estão registradas nos assentamentos de nosso Estado Democrático de Direito.
Já no fim do regime ditatorial, que apesar da decadência, não agradava a transição para um modelo democrático, Sarney foi uma voz ativa e de oposição; se aliou então ao MDB, que viera a se tornar o maior partido do Brasil e no qual permanece até os dias atuais.
Encabeçando a chapa presidencial com Tancredo Neves como candidato a vice-presidente, após a eleição da chapa e a súbita morte de Tancredo, assumiu a presidência do Brasil em 1985. Tomou para si o desafio árduo da transição entre o regime de exceção e a democracia ainda desconfiada. De um lado, o texto constitucional que resgatou e fez nascerem direitos civis, políticos e sociais. Do outro, o temor pelo retorno do governo militar. Soube sofrer as agruras trazidas por um modelo econômico que vinha em plena decadência e que consistiu em um dos motivos da queda do regime militar. Mas o Brasil era mais que um desafio de reequilibrar a economia.
Se Juscelino Kubitschek pensou em materializar o sonho dos 50 anos em 05, Sarney tinha o desafio de recuperar, pelo menos, os últimos 20 anos em apenas 05. Isso diante de um cenário extremamente conturbado em todos os setores. Manteve-se no cargo até 1990, oportunidade em que o país voltou a ter eleições diretas ao cargo de Presidente da República. Uma transição sólida que devolveu a esperança, a confiança e o sorriso ao povo brasileiro, sobretudo, a sua liberdade.
Como homem de Estado e sua extrema habilidade política, Sarney não precisa de dicionário para lhe definir. Foi protagonista de sua própria história e, certamente, um dos principais atores da trama brasileira. É a pura essência conciliatória diante de situações conflituosas, construindo pontes e oportunidades em torno das pautas comuns.
Um homem das artes, dedicando-se à literatura. Como literário destaque para as academias Maranhense de Letras (1952) e Brasileira de Letras (1980). Posições legitimamente defendidas com sua vasta produção composta por centenas de obras, entre romances, crônicas, contos e poemas, sendo um dos representantes do pós-modernismo no Maranhão.
Com a honraria, não apenas a Casa do Povo homenageia o dileto José Sarney, mas toda população do Maranhão, por sua trajetória política, pelo amor ao seu Estado, sempre presente na sua atuação política, eternamente contado em suas obras.
Na definição de Houaiss, o homem de Estado, é pessoa versada nos princípios ou na arte de governar, ativamente envolvida em conduzir os negócios de um governo e em moldar a sua política; ou ainda pessoa que exerce liderança política com sabedoria e sem limitações partidárias. Assim sempre foi JOSÉ SARNEY, a quem tive a honra e a felicidade de autografar duas das minhas obras: CRÔNICAS SELECIONADAS e JANELAS PARA O COTIDIANO.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.