*Por Osmar Gomes dos Santos
Neste domingo, celebramos o Dia do Motociclista — uma oportunidade de pensar sobre um dos meios de transporte que mais provoca debates nas grandes cidades: a motocicleta, ou como chamarei aqui, simplesmente moto. Um veículo tão controverso quanto necessário, que às vezes é exaltado pela sensação de liberdade que oferece, mas também criticado por causa da imprudência de alguns no trânsito do dia a dia.
Essa data homenageia todos aqueles que pilotam por paixão ou por necessidade profissional. Sua história tem uma origem interessante, que ganhou força e virou um tributo nacional a milhões de brasileiros que enfrentam as ruas todos os dias sobre duas rodas — as verdadeiras “asas da liberdade”.
Entre os próprios motociclistas, costuma-se fazer uma distinção: alguns chamam de motociclistas e outros de motoqueiros. A diferença, dizem, está no comportamento e no respeito às regras. Mas não quero entrar nesse mérito agora. Prefiro dedicar estas palavras a todos que vivem sobre rodas, profissionais anônimos dos quais dependemos direta ou indiretamente todos os dias.
Esses trabalhadores são essenciais. Levam pessoas a compromissos, transportam insumos, ajudam a manter o comércio funcionando. São eles que levam quem abre lojas, atende no balcão, repõe mercadorias, corta cabelo, faz unhas — e movimentam a nossa economia.
E os serviços de delivery? Os motoboys enfrentam inúmeros riscos nas cidades para entregar uma refeição quentinha, uma bebida gelada, sempre tentando cumprir o tempo estimado. Correndo contra o relógio, eles equilibram agilidade e responsabilidade — e, infelizmente, às vezes acabam arriscando demais por imprudência.
Não há justificativa para desrespeitar as leis de trânsito. Ainda assim, podemos entender que, diante da rotina agitada da cidade, deslizes aconteçam — como em qualquer outra profissão. Todo mundo erra. Mas passar por cima de sinais de trânsito, fazer ultrapassagens perigosas, exagerar na velocidade ou trafegar irregularmente são atitudes que colocam vidas em risco — não só a de quem comete essas infrações, mas também a de todos ao redor.
A convivência entre motociclistas e motoristas deve ser pautada pela tolerância — no sentido mais ético e respeitoso da palavra. Cada um no seu tempo e no seu espaço, com atenção e respeito mútuo, para que todos cheguem ao destino em segurança.
Por outro lado, é importante separar essa tolerância do permissivismo criminoso. Infelizmente, ações perigosas e ilegais têm se tornado frequentes, muitas vezes motivadas por desafios nas redes sociais. Manobras como o “zerinho” ou o “dar grau”, além de alterações nos escapamentos que ensurdecem bairros inteiros, são atitudes ilegais que precisam ser combatidas com rigor.
A busca por curtidas e reconhecimento instantâneo nas redes tem levado muitos jovens a acidentes gravíssimos — com hospitalizações, invalidez ou até mortes. Em poucos segundos de imprudência, vidas inteiras podem mudar para sempre.
Felizmente, as autoridades têm atuado nesse sentido. Operações conjuntas entre promotorias, polícia e órgãos de trânsito vêm sendo realizadas em várias cidades para tirar das ruas quem desrespeita as regras e prejudica a imagem dos verdadeiros motociclistas.
Para ter uma ideia da gravidade desse problema: até novembro de 2024, mais de 150 mil motociclistas deram entrada no SUS vítimas de acidentes — o custo ao sistema ultrapassou R$ 230 milhões. No Maranhão sozinhos, houve 40 mortes no ano passado. Em 2025, já registramos dezenas de óbitos — muitos poderiam ter sido evitados.
A frase que melhor resume esse momento de reflexão é esta:
“Nada resume tão bem este momento de reflexão quanto esta frase: ‘Muitas vezes, pela emoção da velocidade, em busca de respostas, esquecemos que o maior valor é a própria vida.'”
Que a emoção jamais nos conduza à imprudência, e que a velocidade nunca nos afaste do valor da vida. Um trânsito mais seguro depende do esforço coletivo, sustentado pelo respeito, pela empatia e pela responsabilidade de cada um de nós.
*Osmar Gomes dos Santos é Juiz de Direito na Comarca da Ilha de São Luís (MA). Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas, da ALMA – Academia Literária do Maranhão, e da AMCAL – Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
