Há algum tempo ouço dos especialistas que a educação é a chave para o futuro de uma nação. Sou menino, me chamo José, mas acordar cedo, estudar, fazer as tarefas de casa, tirar boas notas e sonhar com melhores oportunidades já é uma rotina que tento encarar com entusiasmo, tal como faziam meus pais, em suas tenras idades, ávidos de sonhos e esperanças.
Os anos se passaram, hoje meus pais são como aqueles cidadãos ditos comuns, gente do povo, daqueles que levam uma vida simples, porém com muita dignidade e honradez. Gente de meia idade, semelhante às vistas em muitos lugares: nos coletivos, nos canteiros de obras, nos hospitais, no comércio, nas indústrias e até na informalidade.
Em comum, guardamos aquela chama de que a educação é o fator que poderá revolucionar a nossa nação, razão pela qual labutam para que, diferente deles, eu não precise me desdobrar entre estudos e uma jornada de trabalho para complementar a renda de casa. É um fardo que meus pais carregam, literalmente nas costas, acreditando no futuro melhor, para mim, pela via da educação.
Quero educação. Tenho sede de conhecimento e quero contribuir no progresso do meu município, explorar todo o potencial da terra. Integrar zonas rural e urbana sem precisar abandonar as raízes para buscar outros meios de vida na dita cidade grande, tal como fizeram muitos dos meus antepassados.
Quero apenas educação, aquela há muito prometida, que meus pais e seus contemporâneos não encontraram e que ainda se encontra perdida em algum lugar, em meio a um complexo sistema. Alimento um desejo platônico por uma educação que ainda não se converteu naquele futuro que insiste em existir apenas aprisionado nos labirintos idílicos do meu âmago.
Mas sou cidadão, ainda que pequeno, sou cidadão! Detentor de direitos como qualquer outro, inclusive apregoados em uma das mais belas obras de proteção à criança e ao adolescente que se tem notícias em todo mundo.
Desejoso das mudanças, sigo acreditando e querendo aquela furtada de meus pais, busco aquele futuro extirpado de suas mãos ainda em tenra idade. Mantenho viva a ilusão de que a terei, assim como a esperança de que meus filhos e netos também a alcançarão.
Quero futuro, mas para isso é preciso escolas decentes, com paredes e telhados de verdade, com carteiras e paredes capazes de suportar uma lousa para que eu possa melhor compreender a lição. Quero uma escola diferente daquela “casa muito engraçada”, cuja letra fora magistralmente idealizada, mas que para mim guarda uma estreita relação com um certo vazio.
Abaixo as escoras, as paredes de barro e as coberturas de palha. No lugar do chão batido, quero um piso de verdade que simbolize um firme alicerce e um porto seguro que permita zarpar rumo a mares obscuros para desbravar as profundezas do conhecimento. E nada de salas multisseriadas. Quero aprender de verdade.
Quero professores amorosos e dedicados, mas também justamente remunerados e capacitados para os desafios impostos por um cenário mundial desafiador. Quero laboratórios de informática, ter uma conta de e-mail, olhar e aprender sobre o mundo além das minhas fronteiras físicas, apenas pela janela de um computador.
Ah, mas sou garoto de condições limitadas e como dizia meu avô que saco vazio não para em pé, é preciso “sustança”. Cumprindo o que diz a lei que estabelece as diretrizes da alimentação escolar, quero uma merenda de verdade, que reflita o real valor pago com o dinheiro do contribuinte.
Quero uma educação de qualidade, que pense como vou chegar à escola e como retornarei para casa, utilizando o transporte escolar ou o passe livre estudantil. E não seria pedir demais que as fardas e todo material didático me sejam devidamente entregues gratuitamente, já que um item obrigatório.
Ademais, já está pago! Tudo incluso nos impostos. Estes, inclusive, também compostos pelo limitado soldo de meus pais, que apesar da dura jornada, não deixa sobras para aquilo que não seja de primeira necessidade. Mas não desisto, sigo minha sina!
Com muito jeito, consigo, aqui, uma farda usada por um colega do ano passado; mais acolá descolo alguns livros que vou utilizar durante o ano; arrumo emprestada uma velha bicicleta, que será o meio de transporte e sigo meu rumo. Rumo à educação, rumo ao futuro, rumo a uma nova nação, rumo aos sonhos que ainda estão vivos. A quem interessar possa, se não for pedir demais, quero, apenas, educação.
Osmar Gomes dos Santos, Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.