*Por Osmar Gomes dos Santos
Somos o país do futuro e seguimos acreditando nisso. Apegamo-nos a crenças, ditados, slogans e frases de efeito. O “Pra Frente Brasil” pareceu existir só nas páginas de folhetins, nas ondas radiofônicas, na TV em preto e branco e hoje reverbera no colorido das redes sociais.
Na realidade do dia a dia, no entanto, seguimos a máxima de Nelson Rodrigues, “a vida é como ela é, nua e crua”. A violência crescente vem fazendo vítimas de forma sistemática. Matam pessoas, matam-se uns aos outros, matam a nossa liberdade. Vamos nos cercando de medo, enclausurados no pânico urbano que nos impede de uma vida minimamente normal. Estamos nós aqui, presos entre muros, grades, cercas, alarmes. Há violência aqui, ali, acolá. Em todo lugar, livre e solta!
Volto a falar sobre violência urbana e, agora, seus efeitos sobre a educação. Há alguns meses, o medo era das invasões nos centros educacionais, em uma onda de ataques sem precedentes que tirou o sossego de famílias Brasil afora. Episódio isolado? Talvez.
Mas voltam à cena cotidiana, que já virou costumeira, de crianças presas dentro das salas de aula, jogadas ao chão para fugir das balas perdidas ou simplesmente em casa, impedidas de acessar o sistema educacional. Essa é a realidade de centenas de milhares de alunos no Estado do Rio de Janeiro.
Guerra entre facções e ações policiais para combater a criminalidade se espalham em comunidades de norte a sul, leste a oeste do Estado que já abrigou a capital nacional e que, ainda, é um dos destinos preferidos de turistas locais e estrangeiros.
Um fenômeno social que se repete e passa a se tornar quase comum na vida de milhões de pessoas, especialmente dos estudantes em um dos estados mais ricos da federação.
Esta semana, um novo episódio roubou a atenção de todo país. Foram pelo menos 30 escolas fechadas sob o cobertor de fumaça que cobriu a Zona Oeste.
A violência que faz refém a sociedade carioca, também aprisiona a educação e os sonhos de um futuro melhor para aqueles que ainda veem no estudo a saída para uma vida com um pouco mais de dignidade. Fenômeno social que parece se estender gradativamente para outros estados.
Se falar de futuro implica em trazer vinculado o tema à educação para o debate, não podemos mais prorrogar essa discussão. Governo, Parlamento, órgãos públicos nas diversas esferas e níveis, bem como a sociedade civil organizada.
Como retomar a normalidade? Como retomar as rédeas do Estado? A Constituição Federal de 1988 inaugurou uma era de plenos direitos, mas que ainda carecem do alcance prático a quem mais necessita.
Há que se fazer um grande esforço para que o país deixe de ser um corredor para o tráfico, para que os bolsões de pobreza tenham a efetiva presença do Estado, para que não contabilizemos, anualmente, 40, 50 e até 60 mil mortes violentas.
Os reflexos dessa guerra urbana recaem diariamente sobre o processo educacional e impactam diretamente a autoestima de estudantes e profissionais da educação. Muitas vezes sem perspectivas, jovens enveredam por caminhos tortuosos e engrossam os números sombrios da violência.
Só a educação transforma, isso todos sabemos. No entanto, para transformar, ela precisa ser livre, alcançar a todos com qualidade. Seguimos mirando o futuro, e, embora estejamos de “olho”, pouco fazemos no presente.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.