A crise sanitária, que ora se instala, nos mostra a todos o quanto somos iguais e ao mesmo tempo frágeis em nossa concepção, embora sejamos a obra prima do Criador. É natural que os menos afortunados estejam em maior número entre as vítimas, mas também é possível constatar tantos outros nomes de posse não resistirem ao serem acometidos pela Covid-19.
Divagando em meus pensamentos, tropeço em uma frase que certa vez li na entrada de um cemitério: “Aqui é o lugar onde todos os homens se igualam”. Não pretendo enveredar por uma linha fúnebre, mas tal frase prova que somos iguais em essência. Viemos do pó e ao pó voltaremos. O que realmente importa?
Frente à pandemia que ainda assusta o planeta, restou comprovado que nem todo dinheiro do mundo é capaz de salvar um corpo já acometido e debilitado pelas enfermidades. Sem antídoto, estamos no mesmo barco do isolamento, única medida efetivamente capaz de conter o contágio pela doença.
E o que estamos fazendo diante disso tudo? Qual tem sido nosso comportamento frente ao caos ora instalado? Para onde nossas reflexões nos levam? Estamos ainda apegados aos bens que perdemos ou às cifras que deixamos de ganhar?
Assisti recentemente, em uma produção cinematográfica nacional, já em meio a essa pandemia, que o segredo do sucesso não consiste em ganhar dinheiro, ocupar posições ou conquistar um robusto patrimônio material. Segundo a narrativa, o sucesso na vida só é alcançado quando conquistamos aquilo que o dinheiro não pode comprar.
Nunca é tarde para um choque de realidade. Aquela mensagem causou-me profunda inquietação. Vivemos em uma sociedade na qual nos apegamos a coisas, às quais atribuímos valores financeiros, coisificamos pessoas, monetizamos as relações, inclusive familiares. Tudo em detrimento do que realmente importa e que dinheiro algum é capaz de alcançar.
Aproveitemos este momento para dar uma guinada definitiva, mudar condutas e comportamentos, evoluir enquanto ser. O momento é propício para exercício não apenas do corpo, mas, sobretudo, da mente e espírito. Ganhar musculatura espiritual é um passo importante para essa mudança, que deve ocorrer de dentro para fora.
Por isso o questionamento inicial, sobre o que realmente importa. O que realmente faz sentido diante de um horizonte aparentemente sem sentido algum, de um futuro obscuro? Perdemos pessoas próximas sem ao menos poder lhe dar um abraço ou dizer uma palavra de conforto. Muitos sequer puderam enterrar os seus pela passagem que deixou dor e angústia.
O caro, possante e luxuoso agora acumula poeira na garagem e já não pode levar tão longe. As dezenas de casas, em diversas cidades, já não recebem visitas e não configuram mais um porto seguro. As marcas de grifes famosas ficaram esquecidas no canto do guarda-roupa. A liberdade, direito essencial à dignidade, já não é exercitada com o vigor de outrora. O que realmente importa?
Em meio ao que parece ser o ponto mais crítico da pandemia, com número de mortos rompendo a marca de mil pessoas por dia, com a falta de um antidoto eficaz, com a economia a cada dia sendo corroída, com o isolamento que teima em nos impor uma “prisão psicológica”, a esperança é algo que deve nos manter vivos. Como dizia Rubem Alves, conhecido como humanista da esperança, é preciso esperançar.
Acredita-se que o inverno, estação que chega em breve, possa acentuar a grave crise, mas não se pode esquecer que logo após virá a primavera, estação em que toda esperança se renova.
O otimismo vencerá, a doença será combatida. Ainda assim, é preciso que se insista na pergunta: o que realmente importa agora? O que continuará importando depois?
Osmar Gomes dos Santos, Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras