*Por Osmar Gomez dos Santos
Lá fora tudo fervilha. Política internacional, interna, economia, ameaças a escolas, terrorismo, saúde, segurança. O mundo, o Brasil, o Maranhão, São Luís seguem com seus cenários agitados com um turbilhão de acontecimentos que afeta a todos indistintamente.
Mas há algo mais interno, que fala mais alto de forma particular, do qual não poderia me furtar de reverenciar nesta data importante. Nascido em 14 de abril de 1957, na capital maranhense, a reverência destas singelas palavras são hoje direcionadas ao literalmente imortal Aluísio de Azevedo.
Tenho orgulho e, de certa forma, o ego um tanto quanto inflado por poder estar acolhido na cadeira de número 14 da Academia Ludovicense de Letras, patroneada por esse respeitado intelectual, da qual estou como membro titular.
Falar de Aluízio é ao mesmo tempo fácil e difícil. Por um lado, em razão de tanto que já foi dito sobre este expoente da literatura mundial; noutra via, o desafio se coloca devido a sua grandeza enquanto jornalista, romancista, cronista, diplomata, intelectual, homem.
Aproveito este último termo do parágrafo acima encerrado para invocar obra de mesmo nome, Homem, e trazer algumas considerações importantes. Ser humano retratado nas suas nuances mais intimistas, dentro da realidade fática de uma sociedade preconceituosa, hipócrita, racista.
Com uma “caneta” e um papel em branco ousou enfrentar o conservadorismo e defender abolição da escravatura, enquanto setores tradicionais a defendiam. Com sua originalidade, tornou-se o principal autor da corrente naturalista no país.
Narra em “O Homem” a relação entre Fernando e Magda, ela filha do conselheiro Pinto Marques e ele, que morava na mesma casa, é revelado na trama como filho do patriarca, resultado de uma traição. Tal revelação a Fernando pôs fim a aproximação entre os irmãos e a uma jura de que viveriam um para o outro.
Ele foi para Europa estudar e Magda seguiu nutrindo seu amor, sem saber que se tratava de seu irmão. Chega a notícia do falecimento do amado e ela cai em desgraça por longo tempo, sem esticar os olhos a qualquer outro pretendente. Ao voltar de uma viagem também à Europa, decide virar freira.
Passa tempos sem qualquer encantamento, até conhecer Luis, por quem passa a nutrir um amor que reacendeu sua alma. Novamente, aquele pretendido não estaria ao seu alcance, pois já era comprometido com Rosinha, com quem viria a se casar.
Magda oferece uma recepção ao casal e serve vinho envenenado para ambos, que logo vieram a falecer. Não suportava ela a perda de outro amor, pondo fim a vida de ambos e, por consequência, a sua, sendo arrastada à detenção como louca desvairada.
O Homem segue presente em nossa sociedade. Relações extraconjugais, falsidade, egoísmos, desventuras familiares. A não aceitação dos acontecimentos do acaso e o sentimento de perda que não passa e que se revela como fim de tudo.
Tal qual nossa sociedade, que vem formando uma geração que não aceita perder, não sabe receber um “não” e é emocionalmente mais sensível. O Homem de ontem voltou a ser o de hoje e corre o risco de nada o ser amanhã.
Utilizemos as inteligências daqueles que nos antecederam, daqueles que ousaram desenhar a sociedade com pinceladas de tinta real. Quem sabe, dessa forma, o homem de agora possa escrever uma história diferente e assegurar a todos um futuro.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.