*Por Osmar Gomes dos Santos
A pandemia da Covid-19 passou! Enfrentamos agora outro tipo de isolamento social. Desta vez, por outras razões. A natureza com toda a sua beleza, também tem o poder para isolar populações de cidades inteiras. Se não dentro de suas casas, pelo menos tem impedido que pessoas cheguem ou saiam dos seus municípios.
Para quem mora na capital, ou mesmo na região metropolitana, parece soar estranho e naturalmente a afirmação não tem o mesmo significado. Por aqui, todos se deslocam entre bairros, há diversas opções de itinerários para se chegar ao destino pretendido. Porém quando se reside em interiores, muitos dos quais uma única estrada faz a ligação com outras regiões, é possível ter noção dos estragos que a “junção da falta” de ações humanas efetivas somadas à força da natureza pode causar.
Recentemente, tivemos dezenas de municípios e centenas de povoados maranhenses nessa situação: transbordamento de rios, enchentes, quedas de pontes, estradas cortadas.
A água é um bem precioso, entretanto a sua força é devastadora e demonstra que algo em nosso planeta está fora de sintonia. Se em uma cidade rica de um país dito desenvolvido as perdas e os estragos impactam a vida das pessoas, imaginem em cidades pequenas.
Quais são as consequências em um país com enormes desigualdades econômica e social, no Estado mais pobre da nação e com baixíssimo IDH?
Na semana que passou, a população de Cajari -MA sofreu com essa combinação de fatores. Sem manutenção adequada, a estrada de acesso ruiu com a força das águas. A ponte sobre o rion dos Afogados, que garantia o fluxo pela MA 317, veio abaixo, com suas bases ruindo com o volume de água.
Cajari fica localizada na Baixada Maranhense, na região dos municípios de Viana e Penalva, fazendo parte dos grandes Lagos Maranhenses. É bem verdade que fica suscetível à variação do volume de água, no entanto, o problema é antigo e soluções precisam ser encontradas.
O problema da enchente, que tem afetado diretamente a população de quase vinte mil pessoas, foi agravado com o rompimento da cabeceira e da própria ponte de acesso ao município.
O isolamento não afeta apenas o direito de ir e vir, mas diversos aspectos da vida do município e das pessoas, assim como a autoestima dos cidadãos. São pessoas que ficam impedidas de sair para trabalhar, buscar atendimento médico de maior complexidade ou qualquer outro motivo de mero interesse particular. Em contrapartida, outras ficaram impossibilitadas de regressar, alimentos e medicamentos não chegam e itens de necessidade básica começam a faltar.
É bem verdade que a situação é passageira, porém grave. O isolamento agravou com o quadro da enchente, evitando que o socorro humanitário chegue por terra a milhares de pessoas que já sofriam com a cheia…
As autoridades competentes precisam agir com urgência e o Governo do Estado tem envidado esforços para restabelecer a normalidade. Todavia é preciso ter coragem e ir mais além.
Os problemas precisam ser enfrentados de forma técnica, na sua origem e por quem conhece a realidade.
O panorama é caótico. Diante deste cenário, eu não teria como não voltar (e ajudar de alguma forma) o olhar sensível para minha terra natal – Cajari, que neste momento precisa do olhar das autoridades competentes, do socorro humanitário e também da garra e da coragem do seu povo.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.