*Por Osmar Gomes dos Santos
Continuamos a assistir estupefatos os casos de violência contra a mulher e feminicídios, os quais crescem de forma astronômica. Não se trata de demanda reprimida, de melhor investigação ou de um melhor aparato da rede de proteção hoje existente. Trata-se, de fato, da ainda predominante cultura machista arraigada em nosso âmago, de todos nós, homens. Grite, denuncie, disque, converse, peça ajuda, procure uma delegacia. Isso também não basta, sabemos, e, na minha modesta visão, as mulheres estão bem conscientes de seus direitos. Entretanto, muitas vezes por situações diversas e adversas não têm atitudes, coragem de denunciar, por medo, dependência financeira e ameaças, muitas vezes cumpridas por seus algozes.
Nesse sentido, não adianta tão somente as campanhas que têm como foco apenas as mulheres. Faz-se necessário colocar na pauta do debate, das campanhas os homens também. Por isso, a pretensão deste breve ensaio semanal não é direcionada às mulheres, mas aos homens. Especialmente aqueles que se autodefinem como “machos”, porém suas atitudes cotidianas não passam de covardes, escondidos sob a casca do patriarcado cultural.
Dados do 17° Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram que foram registrados aumentos nos indicadores de violência contra a mulher no ano de 2022. Os homicídios alcançaram a marca de 1.437 ocorrências policiais com registros oficiais.
Nunca se matou tanto pelo simples fato da vítima ser mulher. E esses números poderiam ser ainda maiores, dado a elevação de 17%, em relação a 2021, nas tentativas de assassinato. Também cresceu o assédio sexual (49,7%) e importunação sexual (37%), crimes vinculados a uma cultura de objetificação da mulher. Além do aumento no registro de agressões e de ameaças.
Na linha de frente do cometimento desses crimes estão quem? A resposta é uma, apenas: o homem. Daí porque as campanhas e ações preventivas precisam ter seu foco redirecionado.
Lembro-me de uma campanha do Tribunal de Justiça, realizada na Expoema 2011, que dizia: Sou Homem, digo não à violência contra a mulher. Exatamente nesses termos e que me despertou atenção pela forma que foi realizada. A campanha foi direcionada ao Homem, agora com “H” maiúsculo, visando alcançar toda virilidade do sexo masculino, para despertar a consciência de que Homem que é Homem não violenta a mulher, mas a respeita como igual.
Precisamos de mais iniciativas como estas. A sociedade precisa discutir na perspectiva também do agressor, entender as razões das agressões, por mais fúteis que sejam, e falar diretamente aos seus ouvidos.
Mulheres não são vítimas de feminicídio por uma fatalidade, um raio que corta o céu ou um acidente de carro. São vítimas da arrogância, do preconceito, da misoginia, da pequenez, da covardia. Tudo isso em um ser chamado homem. Assim sendo, é importante que se diga, em alto e bom som: homem, não ofenda; não bata; não violente; não maltrate; não mate. Se és tu um Homem, respeite todas as mulheres. Ame-as e cuide!
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.