*Por Osmar Gomes dos Santos
Existe uma passagem bíblica que diz haver tempo para tudo sob o Céu. Se, como humanos, soubermos absorver a inteligência desse comando Divino, saberemos lidar com as intempéries e circunstâncias que nos arrebatam na jornada que aprendemos a chamar de vida.
Assim é em todos os espaços sociais, dos quais fazemos parte e damos nossa contribuição efetiva enquanto podemos, seja por questões de impedimentos legais, conveniência, dever moral ou pelo simples fato de já termos doado um pouco da nossa inteligência.
É assim na política. Todo e qualquer processo político que se baseie pela democracia tem como fator preponderante a livre participação dos cidadãos, desde que cumpridos alguns requisitos relacionados aos direitos políticos assegurados.
O caso emblemático do atual presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, retrata muito bem o que digo nestas poucas e efêmeras linhas. Há quatro anos, quando assumiu a corrida presidencial, afirmou que representaria uma espécie de transição.
Seu então oponente, presidente Donald Trump, sucumbiu a uma proposta menos radical de conduzir a vida pública e Biden sagrou-se vitorioso naquela ocasião, com desfecho que o mundo acompanhou. Semelhança com o Brasil? Mera coincidência. Ocorre que a dita transição agora pretende persistir, por aparente teimosia (ou seria apego ao poder), frente a todos os claros sinais de que já não há condições de conduzir a maior nação do globo.
A fala cansada, os esquecimentos, as confusões mentais, as trocas de nomes têm se tornado situações frequentes na Casa Branca e ganhado destaque no noticiário do mundo todo. Trata-se da condução da maior nação, agora questionada.
Sua insistência, mesmo contrariando correligionários, não apenas expõe uma espécie de teimosia, como também põe em xeque um sistema democrático que ao longo de sua história se consolidou como exemplo para outras nações. Por outro lado, fortalece um lado político de direita marcado pelo radicalismo de suas posições.
Embora tudo se encontre dentro do jogo democrático de representação, condutas adotadas por essa mesma direita em acontecimentos recentes, atentaram contra a própria democracia, flertando com regimes ditatoriais. Algo que fica claro na obra ” Como as Democracias Morrem”, outrora singelamente analisada por mim.
Por óbvio, o conflito é inerente ao jogo político, devendo ter como objetivo único a construção do bem comum, jamais de alguns em detrimentos de outros, especialmente daqueles em situação de vulnerabilidade.
Daí porque os lados em conflito de posições precisam estar fortalecidos, dispostos ao bom e necessário embate no campo das ideias, fortalecendo o jogo democrático onde não há vencedores ou vencidos, se não a própria democracia.
Mesmo na democracia, aqueles que dizem representá-la, podem ser seduzidos pelo poder, cegando-lhes a capacidade de discernimento da realidade, por mais óbvia que ela possa parecer.
Por ser a maior potência do planeta, as eleições nos Estados Unidos têm um grande potencial de influenciar acontecimentos mundo afora, bem como o seu resultado interfere na geopolítica global, tornando-se um acontecimento que merece atenção de todos.
Quando nossos representantes não conseguem compreender a essência da passagem bíblica em nossas vidas, perdem o momento de sair de cena deixando suas valorosas contribuições e correm o risco de desconstruir um legado, pondo em xeque o regime que nos permite pensar e agir livremente.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.