*Por Osmar Gomes dos Santos
Estamos diante de uma nova onda que vem crescendo em todo mundo e que não possui qualquer regulação, fiscalização adequada, inspeção, nada. Ao que parece, prevalecem apenas duas regras: a do dinheiro e a do risco que se permite correr.
A expressão “o céu é o limite” parece ser uma barreira transponível, pelo menos para alguns poucos abastados com gordas contas financeiras. Mas alguns casos deixam óbvio, que dinheiro não compra tudo, especialmente bom senso.
Esse novo e restrito mercado causou um frisson e uma corrida para explorar os lugares mais inimagináveis da terra: cavernas, montanhas, desertos, vulcões. Mas nada comparado aos badalados “passeios” fundo do mar e o místico espaço extraterrestre.
O caso do submarino Titan, da empresa Ocean Gate, era a primeira expedição subaquática para visitar os destroços do naufrágio mais famoso da história. Curiosamente, assim como aquela primeira viagem do gigante de aço, a aventura não terminou bem.
A perda de contato, os milhões de dólares investidos na missão de resgate (diferentemente da desatenção aos naufrágios de imigrantes na Europa), a implosão, a constatação do nada mais resta a fazer.
Apenas para rememorar, era 15 de abril de 1912, quando a maior engrenagem de transporte construído, até então, ruiu lentamente, com suas paredes de aço estalando e “gemendo” na parte gelada do Oceano Atlântico. Logo em seguida, o Titanic estaria no fundo do mar.
O Titanic saiu das páginas de periódicos da época como um dos maiores feitos do homem, para se tornar um grande desastre da humanidade, com mais de 1500 mortos. Se não o maior, certamente o mais famoso da história e que ainda hoje desperta fascínios em muita gente.
Histórias, lendas e mistérios que aguçam a curiosidade e deslumbram os ouvidos e mentes por uma verdadeira viagem no tempo, fazendo-nos questionar muitos porquês jamais esclarecidos. Capricho do destino, negligência da tripulação, soberba daqueles que o produziram ou o dedo de Deus mostrando que sim, ele poderia afundar aquele navio.
Fato é que o gigante repousa sob o fundo do Atlântico, a cerca de 4 mil metros de profundidade. Um ambiente escuro, inóspito, hostil, desconhecido e, óbvio, cheio de perigos. Justamente lá, parece terem resolvido “brincar” de fazer turismo. Com respeito às memórias, naturalmente.
Quando falo “brincar”, naturalmente não me refiro às pessoas que acreditaram na expedição. Estas, talvez, eu diria, teriam sido um tanto negligentes. A responsabilidade, é claro, recai sobre a Ocean Gate, cujo dono, inclusive, estava a bordo da viagem inaugural, que deveria durar entre 5 e 6 horas.
A negligência, desatenção ou simples gosto pelo perigo está no próprio contrato firmado. Como assinar um documento em que uma das cláusulas me compele a estar de acordo com a minha morte? Não parece ilógico aceitar participar de uma imersão em um mecanismo que não possuía qualquer certificação e que já era alvo de críticas e alertas?
Em descida experimental recente, o mecanismo já dava sinais de problemas e a sua estrutura foi construída utilizando materiais reaproveitados e até controle similar ao de vídeo game. Técnicos que trabalharam no projeto já haviam apontado falhas antes. Tragédia anunciada?
Na melhor acepção do “seguro morreu de velho”, sigo eu com os pés no chão, sem deixar que o fascínio suba à cabeça e roube o meu juízo.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense dela Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.