A cada dia vemos divulgação de pesquisas e estudos acerca do clima em nosso planeta e a cada novo enunciado a certeza de que chegamos ao limite está cada vez mais presente. Aprendemos há muito tempo extrair da natureza recursos para nossa sobrevivência, o que foi potencializado a partir da revolução industrial. No século passado e início deste, estamos confirmando ao universo que não queremos apenas o sustento, mas também nosso luxo, conforto, vaidade às custas do meio ambiente.
Todos sabemos o quão necessário é para a sobrevivência da humanidade que os recursos naturais se apresentem em condições ideais, tais como clima, temperatura, índice de poluição do ar e das águas. A combinação desses e outros fatores é que possibilitam o equilíbrio ideal, a perfeita harmonia que garante o nível dos oceanos, a colheita das lavouras, a pesca em abundância, a diminuição de catástrofes naturais. Mesmo com todo conhecimento que temos, continuamos a agredir o meio ambiente de forma sistemática.
Na semana que passou a Organização das Nações Unidas lançou como tema a poluição do ar para ser tratada e debatida na Semana Mundial do Meio Ambiente com diversas organizações governamentais e não governamentais por todo o globo. Embora os problemas ambientais sejam muitos, o tema é por demais pertinente, uma vez que abarca várias causas e consequências dentro do seu escopo.
O ar está em toda parte do globo, sob a camada de ozônio. A diferença está na qualidade do ar que respiramos aqui e acolá, no interior ou na zona urbana, nas pequenas cidades ou nas grandes metrópoles altamente industrializadas. Certamente nas áreas ditas urbanizadas, onde se concentram carros, fábricas e outras atividades tipicamente urbanas, a quantidade de partículas no ar que afetam a saúde tende a ser maior.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 90% das pessoas estão expostas a altos níveis de poluição do ar. Isso representa nove em cada dez pessoas no mundo. As causas nós também já conhecemos bem, com destaque para aquela que vem da agricultura, da indústria, do transporte, do lixo e a doméstica. Apenas a agricultura colabora negativamente com cerca de 24% das emissões de gases, resultantes das atividades agrícolas e pecuárias.
As consequências nefastas da poluição do ar estão presente em nosso cotidiano, a exemplo do aquecimento global, problemas de saúde e as perdas econômicas que podem chegar a 5 trilhões de dólares anuais, segundo estimativa da ONU. Ainda segundo a organização, no tocante à saúde, esse tipo de poluição é responsável pela morte anual de pelo menos 7 milhões de pessoas no mundo.
Além dos efeitos diretos, há aqueles que continuam a se reproduzir em cadeia, como a elevação do nível dos oceanos e a desertificação de áreas antes ocupadas por vegetação, resultado direto da elevação da temperatura no globo. Parece estarmos dentro de um grande forno micro-ondas com o controle remoto nas mãos, completamente alheios a uma temperatura que só aumenta, mas somos incapazes de acionar o único comando capaz de cessar o problema e nos salvar.
Fechamo-nos em nossas bolhas, nossos carros, nossas casas climatizadas, no conforto de nossa ignorância e vaidade, mas somos incapazes de perceber, de uma vez por todas, que fazemos parte de um sistema degradado a cada dia por nós mesmos e do qual todos dependemos. Como sempre faço questão de enfatizar, a solução não é simples, mas possível e está ao alcance de governos e sociedade.
A ONU elenca algumas mudanças de atitudes a fim de frear o avanço da poluição do ar resultante das cinco causas principais. Melhor manejo na atividade agropecuária, maior consumo de vegetais e diminuição das perdas; adoção de combustíveis limpos e fogões mais eficientes para cozimento de alimentos e uso na iluminação; instituição de políticas públicas de incentivo para melhoria da eficiência energética, bem como uso de fontes renováveis de energia, na indústria e no transporte.
É importante acrescentar a esse rol de ações a melhor forma de lidar com resíduos produzidos em nossos domicílios. O descarte inapropriado em via pública, a queima a céu aberto de dejetos, o acúmulo em lixões ou em aterros, contribuem para emissão de gases que impactam na poluição atmosférica. Podemos ajudar na separação e destinação correta dos resíduos recicláveis, por exemplo; da mesma forma como é possível reutilizar como adubo e bioenergia o lixo orgânico.
Percebe-se que há uma série de medidas a serem colocadas em prática, muitas das quais dependem quase exclusivamente dos governos. Outras, porém, estão ao alcance de nossas mãos e entendo que podemos fazer isso de duas formas. A primeira é justamente atuar ativamente junto aos órgãos governamentais para que façam sua parte; a segunda diz respeito diretamente às nossas atitudes, razão pela qual chamo atenção para adoção do comportamento sustentável.
Adotar o consumo consciente em nossas práticas diárias de relação com o mundo torna-se imperativo para estabilizarmos os efeitos da degradação ao meio ambiente. Essa nova forma de consumir não trata apenas do que fazer com o produto a ser adquirido, mas também com o seu resíduo, como embalagem, peças eletrônicas, peças radioativas, restos orgânicos. Um bom caminho já seria evitar a troca anual de celular a cada novo lançamento, por exemplo. E por aí vai.
Nossa casa, o planeta terra, agoniza. Sofre cada dia mais com os efeitos ocasionados das ações daqueles que deveriam cuidar e protegê-lo. Mas ainda há esperança. Não me rendo ao discurso derrotista de que tudo está perdido. Pelo contrário, já comecei a adotar práticas sustentáveis e fazer minha parte, sendo o beija-flor do mundo que quero para mim e para as gerações futuras.
Osmar Gomes dos Santos, Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.