*Por Osmar Gomes dos Santos
O que nos impede, ainda, de olharmos o outro como irmão? É essa a indagação que fiz, em forma de reflexão, ao tomar conhecimento da Campanha da Fraternidade 2024, com o tema “Fraternidade e Amizade Social”.
Iniciativa da Igreja Católica, a Campanha nasceu amparada na caridade e na solidariedade ao próximo. Ao longo de seis décadas, tornou-se um movimento cujos pilares se sustentam na comunhão, conversão, no amor ao próximo e na tomada de atitudes.
A Campanha sempre está voltada para questões sociais, que estão em nosso debate cotidiano. Assim, pretende a conversão de situações injustas em atitudes cristãs de amor e fraternidade, em prol dos menos favorecidos.
Não vou, aqui, pregar religião, embora assumidamente católico. Mas apenas resgatar a essência do evangelho, por meio dessa importante iniciativa, que em 2024 toca em um ponto importante.
Olhar o outro como a si mesmo está em nossa sociedade como aquilo que chamamos de empatia, tão apregoada no dia a dia de nossas instituições, mas pouco praticada das portas para fora. Querer o bem para si, implica, necessariamente, que façamos bem ao próximo.
O que há, então, em nossa natureza obscura que nos faz tratar bem quem está mais perto de nosso convívio e repulsar, ou mesmo tratar com indiferença, quem nos é “estranho”. Sob a crença de estarmos certos ou sermos melhores, subjugamos o outro no trânsito, na fila do mercado, em posição de “aparente” inferioridade.
Fechamos os olhos às mazelas sociais, desrespeitamos o idoso, desconsideramos as crianças, ignoramos a pessoa em situação de rua. A partir de nossos preconceitos, definimos estereótipos ideais ou não ideais, compatíveis ou não com as nossas certezas e, assim, seguimos virando as páginas de nosso calendário.
Muitas vezes, abraçamos aquilo que nos separa e nos afastamos do lema da campanha, que remete à passagem bíblica de união e de fraternidade: “Vós sois todos irmãos e irmãs”.
Vemos um mundo em guerra: nações se levantando contra nações, irmãos contra irmãos. Povos que se diferenciam em diversos aspectos, especialmente religiosos e culturais, mas iguais na essência humana. Essência que está sendo perdida a vagar com as dezenas de milhões de refugiados mundo afora.
Exclusão, indiferença, violência, guerras. Palavras que não compactuam com a nossa humanidade. Como diz a oração da campanha, fomos todos criados com a mesma dignidade, que não está no valor que se tem na carteira, no carro que se dirige ou na roupa que se veste.
Abraçar a fraternidade é dever de todos nós, independentemente de religião. Estamos neste plano conectados e devemos unir esforços para um mundo melhor, com igualdade, justiça social e paz entre os povos.
Reflitamos sobre a essência da fraternidade em cada um de nós, deixando que o espírito de amor e comunhão guie nossas ações. Estender a mão ao próximo é um ato de mão dupla, ajuda quem a recebe e faz bem a quem estende.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.