*Por Osmar Gomes dos Santos
As crônicas costumam ser textos que trazem casos e acasos do cotidiano, todos traçados na efemeridade da linha do tempo e, que não regressam, porém servem como importante registros; uma espécie de recorte temporal do episódio vivido aos olhos do escritor.
Manifesto minha audácia de ensaiar uma crônica que deve ficar para posteridade. Naturalmente, remete a algo ocorrido, mas que seus efeitos se estendem, e assim deve ser, pelos dias que se sucedem, estando presente nas rodas de conversa, seja entre familiares, amigos, quiçá desconhecidos.
Falo, pois, sobre a Semana de Mobilização pela Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos, ação conjunta da Corregedoria do Foro Extrajudicial do Maranhão, Colégio Notarial e Central de Transplantes. Foi uma semana pela vida.
Costumamos dizer que somos feitos de ciclos. Ciclos anuais, quando comemoramos nossas primaveras; fases boas ou ruins; etapas que trazem amarguras, maturidade, sabedoria, felicidade. Ciclos.Todavia, para todos chega o fim deste ciclo existencial maior, chamado vida. Para alguns mais cedo, outros mais tarde. Fato é que não escapamos ao inexorável destino que a todos aguarda. Mas, uma chama que se esvai não necessariamente, precisa ser o encerramento de um ciclo. Pode ser, por outro lado, o reinício de tantos outros, bastando um simples gesto de amor, esperança e fé: doar os órgãos para que outras vidas sigam suas caminhadas.
Durante a referida campanha, fui abordado com uma indagação: você deseja ser doador? Pensei um pouco e, antes mesmo de responder, veio-me o segundo e arrebatador questionamento: e se fosse você na fila de transplante, gostaria de receber um órgão e ter a chance de poder continuar a vida?
Muitas vezes pensamos apenas sob uma perspectiva de ser doador, de poder salvar a vida de alguém. Entretanto, não nos damos conta de que, amanhã, poderá ser um de nós (eu) a precisar de um órgão. E como será bom saber que outros tomaram a atitude de serem doadores.
Por óbvio, não trarei o discurso romantizado do herói ou da heroína das telas de cinema para esta pauta. Contudo, você, como ser humano em essência, pode adotar uma postura altruísta. Decidindo pela doação de órgãos, um dia, você poderá salvar a vida de, pelo menos, outras dez pessoas.
Se essa mensagem alcançou você, procure saber mais. Busque fonte de informações confiáveis, livres de preconceitos, tabus ou desinformação e tire suas dúvidas. Acenda o debate com amigos e familiares, leve-o para mesa de bar, fila da padaria ou mercado, reuniões de escola, ambiente de trabalho. Multiplique!
Não sigamos a mesma máxima do imaginário social que nos afeta de forma particular, de achar que “isso nunca vai acontecer comigo”.
O destino todos os dias bate em portas diferentes para mostrar que tudo pode acontecer com todos. Não importa idade, cor, sexo, religião, classe. E, agora, vos bate à porta para dizer: você tem a oportunidade de ser doador e deixar esse desejo registrado com a autorização eletrônica.
Nesta virada de semana, que possamos refletir sobre essa importante mobilização, estando de parabéns a COGEX, mostrando que o Judiciário, definitivamente, rompeu as barreiras dos processos para alcançar a sociedade em outras dimensões, bem como os demais órgãos envolvidos.
Inicialmente falei dos ciclos, curtos e longos, tal como este diálogo que ora encerro. Neste novo ciclo semanal, que agora inicia, adote a atitude de ser doador de órgão. Faça sua Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos pela internet. Na dúvida, procure o cartório de notas de sua confiança.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.