O título de hoje tem uma pitada de brincadeira com um ditado de nosso cotidiano. Afinal, está pronta mais uma obra fruto destas conversas semanais. Arrisquei-me agrupar alguns escritos que compartilho com os leitores toda semana para formar um conjunto robusto desses pensamentos.
Eis que surge “Crônicas Selecionadas”, uma compilação das mais diferentes formas de ver, ouvir, sentir e viver. Uma mistura de emoções em um testemunhar do cotidiano. Histórias alegres e tristes, política, futebol, eleições, paixões.
Lançado na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, no último dia 5, Crônicas Selecionadas tem o prefácio do ilustre amigo e confrade na Academia Ludovicense de Letras Álvaro Urubatan Melo, que me presenteou com boas memórias de minha árdua, porém honrosa e satisfatória caminhada.
Lançou sobre o papel branco alguns momentos marcantes, muitos dos quais relatei naquelas crônicas que não se esvaem com o tempo, mas que permanecem atuais a todo momento. Mostrou as quedas daquele menino franzino, mas também a força de vontade que o fazia reerguer a cada tombo.
Quão bom é ver sua vida prefaciada de forma tão cirúrgica. Igualmente apraz-me ver todos aqueles contos cotidianos sendo sintetizados na ponta da caneta de um amigo. Crônicas que falam de democracia, liberdade, justiça, educação, saúde, meio ambiente, diversão, cultura, política, violência, paz, amor, vida.
Em cada um dos textos escolhidos, posso dizer, debrucei horas em pensamentos que muitas vezes me fugiam tamanha diversidade de temas que se apresentam um cenário cada vez mais complexo e turbulento politicamente.
Daí que, por vezes, era necessário abstrair-me dos problemas corriqueiros e ensaiar escritos mais leves, dos quais o leitor pode se deleitar vagarosamente. Num pensamento fugaz, recorria às minhas lembranças e devaneios poéticos para enaltecer a minha Cajari, como não?
Assim, descrevo no prólogo tamanha satisfação em poder reunir em uma obra uma parte dessas apreensões da vida. Quando falo de “vida”, falo da minha, sem pretender apresentar lições a ninguém. No máximo, faço um convite às reflexões propostas.
Penso que assim deve ser o autor: falar, propor, instigar o pensamento, fazer refletir, sem jamais querer impor seu modo de ver o mundo. Sem soberba, eis que Crônicas Selecionadas é mais do que uma forma particular de ver, mas posso assegurar, um mundo que vi, vivi e ainda vivo intensamente.
Sem qualquer proposta cronológica, o leitor pode pular daqui para acolá, depois é só voltar para cá, num simples passar das páginas. Ainda que semelhanças sejam percebidas, a obra não segue uma ordem rigorosa.
Lembro que não há qualquer signo ou significado fechado em si. Aqueles que me conhecem sabem que guardo a caneta do rebuscamento para os momentos oportunos. Em minhas crônicas gosto de pensar que estou a discorrer sobre um papel de pão com um lápis cuja ponta fora desenhada com uma velha faca amolada.
Simplicidade. Como não escrevemos para nós mesmos, uma vez que nossos pensamentos individualescos já nos bastam em si, penso que esta qualidade seja um dos maiores desafios para o escritor e a chave para garantir que sua obra alcançará a dimensão e o fim social a que se presta.
A linguagem simples, mas cheia de significado. Essa característica oportuniza uma leitura nada parnasiana, mas realística. Procurei não guardar relação com o tempo, que teima em correr depressa e deixar ultrapassado tudo que agora é ontem.
Aliás, olhando para o ontem, avaliando nossas condutas do hoje, podemos pensar caminhos possíveis para o amanhã. Não deixo, obviamente, o lado romântico passar batido. Vira e mexe o leitor vai se deparar com o lirismo, quase musical, de um ou outro rabisco, cuja produção quase nada tem de intencional.
Aproveito para trazer aqui, parte final do prólogo, na esperança de que a leitura produza boas reflexões e, sobretudo, algumas relevantes inquietações que nos permitem sair do lugar comum, dar um salto para além da zona de conforto. Ousemos, portanto, debater um modelo de sociedade melhor a partir das condutas particulares.
Boa leitura!
Osmar Gomes dos Santos. Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.