Opinião pública se tornou uma expressão clichê quando se pretende avaliar personalidades, governos, empresas, enfim, tudo aquilo que de alguma forma está ao alcance da análise do cidadão. Seja positiva ou negativamente, costuma-se dizer que a opinião pública é impactada pelas ações dos agentes públicos, ou, no sentido inverso, em torno deles emoldura uma conduta.
Isso porque a opinião pública nada mais é do que a representação da vontade popular, hoje muito mais difundida em razão dos avanços tecnológicos. Essa vontade está nas ruas, nos meios de comunicação, nas caras pintadas, na forma de se vestir, na forma de se expressar. Está em todo lugar e em todos os momentos, presente nas mais diversas formas de se comunicar, seja sob gritos, seja sob o silêncio.
A opinião púbica na essência remonta o efervescente cenário entre os séculos XVII e XVIII, do desenvolvimento do comércio, de toda lucidez sobre as questões sociais que o iluminismo jogou na sociedade da época. Ela nasceu da burguesia, classe que tratava dos negócios, condutora do renascimento, mas que estava ausente da política.
Naturalmente que opinião pública de hoje não é a mesma daquela restrita a alguns cafés e a poucos círculos sociais. Como disse acima, ela está por toda parte, influenciando e sendo influenciada dentro de um dinâmico jogo de poder que se processa nos espaços de representações, que por sua vez podem ser classificados como campos sociais, tais como o da política, o da saúde, o da educação.
Recentemente trouxe uma abordagem sobre as virtudes e posturas que o gestor público precisa possuir. Resgato uma das qualidades ali abordadas para ressaltar que a sensibilidade neste ponto é fundamental. Ouvir o clamor que vem das ruas – os anseios sociais – e traduzir isso em forma de acertadas políticas públicas contribui para o sucesso ou o fracasso do gestor.
Sem sair do campo político, mas apenas estendendo a um espaço mais amplo, que é o da própria esfera pública, conquistar uma opinião pública positiva é um dos fatores de sucesso de uma organização, pública ou privada, tal como do agente social, esteja ele ou não investido em uma função pública.
Nesse jogo de embates representativos, por deveras ideológicos, exerce um papel fundamental devido o seu poder de reverberar os acontecimentos a um sem número de pessoas mundo afora. A propósito, quem nos dias atuais não ouve frequentemente a expressão “viralizou” como forma de dizer que um fato alcançou milhões de compartilhamentos e publicações pelo mundo?
Esse é um fenômeno dessa nova esfera pública, que constitui uma opinião pública ainda mais incontrolável, mas que ao mesmo tempo possui ou parece ter um autocontrole sobre aquilo que merece ou não ganhar atenção nos mais diversos canais midiáticos.
Não é objetivo, aqui, adentrar nos estudos sobre a opinião pública e todos os demais temas que a cercam, isso certamente já é muito bem feito pelos estudiosos, em especial os teóricos do campo da comunicação. Não obstante, a proposta visa tão somente chamar atenção para esse fenômeno social carregado de complexidades, visto que é produto da natureza humana.
Notadamente que ela pode ser mais ou menos qualificada, inclusive no que depender do grau de instrução de seus participantes, como se pode verificar em temas que surgem de campos sociais específicos. Mas, independentemente da qualificação de seus componentes, ela jamais deixará de ter imensa participação dos mesmos no debate proposto diariamente.
Essa reflexão é importante, notadamente, para aqueles que ocupam postos públicos, sejam eles eletivos ou não. A atuação dos gestores é atualmente um dos temas mais discutidos e que sofrem maior pressão da opinião pública, que tem o poder de amoldar, melhorar, reformular e até mesmo banir, ações ou pretensões de políticas governamentais.
Na pauta política atual estão dezenas de assuntos que são acompanhados pelos cidadãos, que por sua vez se manifestam acerca dos temas em debate. Criminalidade, corrupção, reformas, economia, empregos, são alguns desses assuntos que rendem toneladas de kiloPortes de informação que podem afetar as tomadas de decisões e os rumos da cidade, estado ou nação.
Atenção especial deve ser dada ao chamado campo da comunicação. É nele que se processa grande parte das informações que estão no cerne do debate que resulta na opinião pública. E não se pode querer controlar esse processo, uma vez que na República Federativa do Brasil é livre o exercício profissional, o anonimato da fonte, a liberdade de expressão e de pensamento.
A opinião pública é indomável. Não se pode querer dominá-la, no máximo compreendê-la e aprender a lidar, se possível a seu favor, com um fenômeno mutável, devido as variantes diversas que podem interferir naquilo, estará ou não na agenda diária dos debates.
Osmar Gomes dos Santos, Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís; Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.