*Por Osmar Gomes dos Santos
Pego-me novamente a fazer uma reverência, como já fiz em outras oportunidades, a alguém que muito fez e certamente seguirá fazendo pelo nosso futebol. Mais que um tributo a quem se foi, uma lição de vida que segue para quem fica. Mas não falo, aqui, de morte. Parafraseando Mario Jorge Lobo Zagallo, só morre quem nunca é lembrado. Jamais esquecido em vida, seguirá um exemplo para a posteridade, daqueles para serem rememorados, comemorados, estudados, comentados.
Zagallo é daqueles que não tem como não gostar, principalmente quem ama o futebol e a seleção. Se em algum momento isso ocorreu, é porque aqueles que se posicionaram como “críticos” muito pouco ou nada conheciam da redonda.
Estudioso e conhecedor profundo do futebol, fez história por onde passou, sendo campeão como jogador e técnico. Nos diversos clubes, muitos dos quais rivais, foi reverenciado pela técnica, profissionalismo, educação e generosidade. Mas foi na seleção que fez a diferença. Campeão do mundo em 1958 e 1962 como jogador, foi alçado técnico da Seleção Brasileira de Futebol pouco antes da Copa de 1970. O tempo exíguo não foi obstáculo para imprimir um novo padrão no futebol mundial.
Ali, o futebol começava ganhar novos contornos, com esquemas táticos e com papeis definidos para cada jogador em campo. Todos passaram a ter funções com e sem a bola. Como atacar, recompor-se e defender-se.
Campeão, bi, tri, tetra mundial e não seria exagero dizer penta, embora não estivesse fisicamente na seleção em 2002. Por que não dizer hexa, hepta, octa? Títulos que certamente virão. E como ele costumava dizer, sempre estará dentro de campo quando a Amarelinha jogar. Isso porque a camisa da Seleção e Zagallo são duas entidades do futebol indissociáveis. Difícil olhar o Velho Lobo e não enxergar a Amarelinha, impossível olhar para a Seleção Canarinho e não enxergar Zagallo.
Uma camisa respeitada no mundo inteiro, em muito damos graças a ele. Seu jeito gentil e cortês se transformava quando o assunto era seleção. A camisa ganhava novo formato, uma espécie de armadura, que ganha vida com seu dono, vestida para uma batalha até o último esforço.
Ao falar de seleção os olhos brilhavam, a voz mudava de tom, a emoção tomava sua face. Com roteiro digno de oscar do “vocês vão ter que me engolir”, provou que idade não é problema. Quiçá a geração atual e a futura tenha, pelo menos, 10% de identificação com a seleção, com sua nação.
Exemplo de perseverança e resiliência, mostrou que nunca se está velho para ser bom naquilo que ama. Deixa lições de vida, no futebol e fora dele.
Ontem uma lenda vida; agora, uma lenda eterna.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.