*Por Osmar Gomes dos Santos
A história antiga, por dizer clássica, é fascinante e nos traz ensinamentos até os dias atuais. Obras da arquitetura e da engenharia, formas de organização social e comércio, regimes políticos, tipos de governo. Muitas dessas lições ecoaram na história.
Especificamente, ao falar de Roma, não há como não notar o funcionamento da sua política. Da Monarquia, passando pela República e instituição do Senado, até chegar ao Império tudo era possível sob as vestes dos governantes e longe do olhar do povo.
O próprio nascimento de Roma, reza a lenda, tem início com disputas pelo poder, como bem conta a história de Rômulo e Remo, abandonados à sorte, alimentados por uma loba, fundaram a cidade romana. Pouco depois da fundação, Rômulo teria assassinado Remo.
Guerras civis, alianças, tramas, estratégias políticas, conspirações, traições, assassinatos, golpes. Episódios em que a ambição e ganância precederam a honra, prevalecendo o lobo que há em cada um, na expressão hobbesiana.
Tudo isso marcou uma sucessão de acontecimentos, alguns dos quais deixaram legados, algumas páginas a serem viradas e, talvez, esquecidas. Nenhuma semelhança com os dias atuais.
Em nome do poder, valiam-se de todos os recursos, desde os mais cruéis, sob regimes autoritários conduzidos por tiranos, até o estabelecimento de boas ações, ao bom e velho modelo populista. Teve de cidade incendiada e ações para acalentar as multidões de plebeus.
Eis que entra a tão conhecida “Política do Pão e Circo”, aquela que estudamos nos bancos escolares. Instituída pelo primeiro imperador romano, Otávio Augusto, após queda do Segundo Triunvirato, tinha objetivo de controlar revoltas populares e garantir a expansão do Império.
Para arrefecer as massas, eram oferecidos grandes banquetes, festividades, manifestações artísticas, eventos esportivos e disputas de gladiadores. Tudo regado à distribuição de alimentos, especialmente pães e trigo.
Na prática, buscava-se um certo apoio popular, angariado pela acomodação da massa, perdida no mar de sorrisos decorrentes das efusividades das manifestações “circenses”, alimentadas pelo “pão” que garantia o subsídio necessário a cada novo dia.
Uma programação estrategicamente pensada para anestesiar a dor de uma sociedade marcada pela segregação, da quase impossível mobilidade social e da falta de acesso a serviços, condições básicas para exercício da cidadania.
Essa forma de conduzir a coisa pública ficou cristalizada e passou a ser uma prática nada convencional, adotada desde então. Diante da calamidade que a polis (cidade) se encontrava, governantes encontravam uma forma de ofertar diversão e um alento às necessidades mais urgentes.
Assim, ganhavam a simpatia do povo por oferecer, no seu entendimento, algo que era essencial para acalentar a sua dor, física ou emocional.
O período ora narrado, cujas influências são sentidas em nossos dias, mais uma vez nos mostra como é importante o estudo da nossa rica história ocidental.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.