*Por Osmar Gomes dos Santos
Há alguns anos, talvez décadas atrás, uma semana era tempo suficiente para escolher um ou dois temas para ser tratado em uma crônica. Mas com uma dinâmica cada vez mais acelerada possibilitada pelos meios de comunicação, os acontecimentos de um dia sobrepõem semanas quando olhamos no retrovisor do tempo.
Na última semana foram muitos os acontecimentos. Sociais, políticos e econômicos se apresentam no topo da lista. Inflação, alta dos alimentos, ruídos na comunicação pública. Impasses para fim da guerra, taxação de produtos, tensões em todos os sentidos.
Mas escolhi um tema que me chamou atenção na última quinta-feira, quando foi divulgado um dado minimamente questionável, não importa qual seja a conjuntura e as justificativas insanas que possam sustentar argumentos vazios que alimentam canhões apontados mundo afora.
Foi divulgado que em 2024 os Estados Unidos desperdiçaram 968 bilhões de dólares em gastos militares, alcançando maior nível desde o fim da Segunda Guerra. Um valor que representa quase 40% do que é gasto no mundo, somados os demais países.
A título de informação, o valor global alcançou o desperdício de 2,46 trilhões de dólares no ano passado.
Falo de desperdício e explico. Por mais que saibamos que a história humana foi marcada por disputas e guerras de toda ordem, entendo que não deveríamos seguir tendo esta como uma opção na corrida pelo desenvolvimento e busca incessante de poder.
Decerto que há uma rede de industriais e uma cadeia de empresas que vivem da guerra. Como se costuma dizer, há quem ganhe muito dinheiro tripudiando sobre a miséria e sofrimento alheios. Assim, cada bala disparada é uma equação que não fecha, sendo uma vida a menos e alguns dólares a mais nos bolsos de quem lucra com os estampidos intermináveis.
Será que após tanto tempo, conflitos, destruição e sofrimentos não aprendemos nada com a guerra? Como ainda somos capazes de gastar, gastar e gastar em armas cada vez mais sofisticadas e modernas, enquanto regredimos a tempos de homens das cavernas.
Estamos falando de cifras que ultrapassam 3 trilhões de dólares anuais, dinheiro que daria para reconstruir caminhos para um mundo sustentável, baseado na tolerância e na paz. Um lugar com oportunidades para todos e onde a fome não teria lugar.
Fome! Palavra que insiste em estar presente no vocabulário das nações em avançado século XXI, alcançando um terço ou mais das pessoas em nações de várias partes do mundo. Para onde mesmo que evoluímos?
Se tivéssemos a mesma coragem de empunharmos armas para darmos as mãos em sinal de respeito e trabalhássemos juntos em prol da paz mundial, quão melhor não seria viver neste planeta?
Investir dinheiro para formar o cidadão de forma plena, com educação, lazer, emprego. Pessoas de autoestima elevada, sem que tenha que ser subjugada a baixar a cabeça em função de uma retórica binária que quer fazer impor o falso mito de superioridade versus a inferioridade.
Quem determinou quem é bom ou mal, o que é certo ou errado, aceitável ou não? Quando e sob quais argumentos os inimigos foram construídos ao longo da história, de forma que não sobra qualquer espaço para racionalidade minimamente crítica sobre atitudes que nos afastam.
Somo acima de tudo humanos e assim precisamos seguir juntos, sem importar cor da pele, etnia, tipo de cabelo, formato dos olhos ou da cabeça.
Quando veja todo esse montante de dinheiro sendo queimado com as pólvoras de cada gatilho acionado, sinto chegar à conclusão de que desenvolvimento e evolução são palavras que não traduzem aquilo que dela se esperavam.
Mais dinheiro para educação, saúde, geração de emprego e renda, esporte, lazer e cultura. Mais dinheiro para paz, nenhum centavo para a guerra.
Osmar Gomes dos Santos
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.