*Por Osmar Gomes dos Santos
Costumamos brincar com a máxima de que “o Brasil não é para amadores”; expressão carregada de simbolismos e significados transversais. Resolvi então, a partir dessa premissa, fazer uma analogia ao mundo do futebol, após uma escolha da Bola de Ouro que surpreendeu o mundo.
Depois de tanta estrada percorrida, tanto futebol jogado, títulos conquistados, lembrei daquela fatídica narração de Cléber Machado, no GP de Fórmula 1, na Áustria. Rubens Barrichello liderava, no entanto, recebeu ordens para deixar Schumacher ultrapassá-lo. “Hoje, não; hoje, não; hoje sim”.
Isso mostra como outros interesses, sejam eles quais forem, não encontram espaço no esporte. A dor, o sofrimento, a paixão, a emoção, o inesperado, a superação fazem a magia do esporte, não interessa a modalidade.
Daí porque o esporte, em especial o futebol, não é uma ciência exata. A regra é que seja imprevisível, tanto quanto fantástico. O drible improvisado, o recurso tirado da cartola, a capacidade de gerar resultados. Essa foi a temporada de Vinicius Júnior, o Vini, carinhosamente conhecido, ou melhor, as últimas temporadas do nosso craque.
Não falo com patriotismo, mas sobretudo como amante e apreciador do futebol, e assim, exponho meu ponto de vista. Com respeito ao eleito, Vinicius Júnior foi preterido por outro jogador que sequer era cogitado a estar entre os três melhores da atualidade, embora tenha suas qualidades.
Já vimos alguns prêmios de melhor de uma Copa do Mundo recair ao vencido, como espécie de consolação. Entretanto, o prêmio de melhor do mundo não comporta tal cortesia, devendo recair sobre quem realmente merece a conquista.
O nome, inclusive, já resume tudo: conquista. Não é algo dado de bom grado, mas buscado na raça, enfrentando adversidades. No caso de Vini, batendo de frente com as ofensas, preconceitos, perseguição e violências.
Sua luta contra o racismo mexeu com aqueles ditos especialistas que votam e fazem as escolhas, enviesadas sob o prisma de um eurocentrismo e distante da realidade do resto do mundo. Ou seria a compreensão do futebol além-mar diferente do restante do globo?
Vini é o ousado, o preto, latino. Atravessou o oceano para lembrar ao mundo como é o bom futebol. Superou a adaptação e hoje brilha nos gramados mundo afora. Mas enquanto alguns aplaudem, outros o chamam de abusado, atrevido, macaco.
Daí porque iniciou uma luta no futebol, batendo de frente com a Federação Espanhola, com torcidas, com racistas. Isso desagradou a parcela hipócrita e demagógica de uma elite, parte dela responsável por depositar o voto na urna.
Algumas de suas declarações foram transformadas em “polêmicas”. Seriam de fato ou não passaram de alardes por uma mídia conservadora, que guarda traços do segregacionismo e que tudo vê como mimimi?
Para nós, Vini, assim como para a grande parte do mundo, onde seu rosto é amplamente conhecido, você já é o melhor há duas ou três temporadas. E, para isso, não precisa de lógica matemática, mas de um coração que ama futebol.
Vini decidiu campeonatos, direta e indiretamente, incluindo o mais difícil do mundo. É o que, hoje, o futebol tem de melhor para oferecer. Une a irreverência e a alegria de tempos passados ao estilo moderno do futebol objetivo e que busca resultados. E ele encanta por conseguir entregar ambos.
Longe de qualquer comparação com o futebol jogado, entretanto, fazendo uma relação direta com a cor da pele, o mesmo mal que sofreu o nosso rei do futebol, glorioso Pelé.
Não dá para colocar no mesmo patamar um atacante goleador e decisivo com um volante. Ademais, pela lógica dos últimos 20 anos, exceção do zagueiro Cannavaro (2006), os melhores do mundo foram atacantes.
Qual a criança que ama futebol e sonha ser um zagueiro, lateral ou volante? No entanto, todas querem ser Neymar, Messi, Cristiano Ronaldo, Vinicius. A bem da verdade, até mesmo o vencedor da Bola de Ouro, se pudesse votar, escolheria Vini Jr.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.