*Por Osmar Gomes dos Santos
Seja leve para o ano que se inicia. Com ele virão novos desafios, muitos dos quais ainda não conhecemos. Outros tantos que fazem parte dos objetivos que escolhemos traçar e que consistem em planos e metas estabelecidos.
Recentemente, tivemos muito com o que nos preocupar. É momento de reduzir a marcha para a velocidade um e aproveitar a vida que passa, sem deixar que ela passe sem viver.
O filme Click, película de 2006, nos traz interessante reflexão sobre sucesso, tempo e família. Muitas vezes, priorizamos o primeiro, fazendo de nossa jornada uma busca desenfreada pelo dinheiro, fama ou posto de trabalho elevado.
Ao sair da ficção e nos voltar à realidade, é possível constatar que pouca coisa muda. Na busca pelo sucesso, corremos os riscos de adotarmos tal postura e cairmos na armadilha criada por nós mesmos.
Tomados pela correria diária, damos as costas à família e aos amigos. Deixamos de apreciar as coisas simples que nos faziam sorrir e contemplar outras que nos traziam a boa sensação de estarmos vivos. Perdemos, então, a noção do tempo.
Ouso perguntar: o quão rápido foi o ano de 2023 para você? Os relatos ouvidos diariamente em meio a encontros de família e compromissos de trabalho é o de que o ano “voou” e que o tempo passa cada vez mais rápido. Afirmação retórica, óbvio.
Bom, naturalmente essa é uma sensação que está diretamente ligada a esse comportamento frenético que adotamos. Uma vida impulsionada pela velocidade 2x ou pelo 5g das novas tecnologias computacionais.
O tempo não mudou. Segundos seguem um após o outro, perfazendo minutos, horas, dias, meses, anos. Se algo mudou fomos nós, o comportamento humano e sua relação com o sistemático e inexorável tempo.
Quando foi o último beijo, o último abraço, a última sessão de cinema? De quando são as recordações de ir as compras, colocar o filho nos ombros, pular as ondas do mar? Quando foi a última vez que chegou em tempo ver os filhos ainda acordados ou de lhes contar uma história antes de dormir?
Aproveitando as poucas horas que nos resta de 2023 e já preparando nossas preces para 2024, que guardemos, também, alguns minutos para refletir sobre como vamos atravessar o ano que se inicia.
Guardaremos mais recordações? Daremos mais gargalhadas? Pisaremos mais na areia? Tomaremos mais banhos de chuva? Colocaremos mais vezes o carro na estrada com a família e amigos? Cultuaremos mais nossas religiões? Daremos mais atenção à nossa saúde?
Que tal somarmos aos nossos desejos de sucesso e conquistas – o que é natural e aceitável – pitadas de afeto, de humanidade. Reduzir o tempo com os olhos nas telas, geralmente voltados ao que está tão longe, e inclinar a atenção para o que está ao lado.
Ao lado de trabalho e realizações, que possamos dar mais abraços e apertos de mãos. Que tenhamos mais encontros com as pessoas queridas e possamos dar boas risadas, mesmo daquelas piadas sem graça, sob o simples pretexto de sorrirmos para a vida.
Sempre em frente e sem marcha ré, o tempo é só um e segue seu ritmo. E se a vida é trem bala, troquemos a condução vez por outra. Peguemos uma carruagem ou ousemos trilhar a pé alguns trechos dessa jornada chamada vida.
O tempo é como um carro e cada um de nós possui o seu. Ao virarmos a chave, escolhemos como vamos guiar nossas vidas. Quanto mais depressa corremos para alcançarmos o sucesso, menos nos damos conta de tudo que nos cerca.
Enfim, 2023 se encerra e é tempo de colocar nosso carro – o tempo – na revisão. Logo ele estará pronto, esperando o virar da chave para novos desafios. Os objetivos são e sempre serão importantes, mas nesta viagem de 2024, que tal apreciarmos e valorizarmos um pouco mais a jornada?
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de . Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.