Existe uma coisa que sempre intrigou a humanidade ao longo de toda a sua história. Grandes períodos ficaram marcados por crenças limitantes que impediam a sociedade de enxergar além de um palmo a frente dos padrões estabelecidos e aceitos por todos como absolutos.
Por longos anos, em épocas distintas, a ousadia era algo guardado a sete chaves por muitos daqueles que posteriormente foram vistos como revolucionários. A história presenciou assassinatos às escuras, enforcamentos em praças públicas, retratações forçadas para desdizer o dito que era verdade, mas que abalava a estrutura de toda uma sociedade.
Mas a humanidade evoluiu. A era da terra plana ficou para traz, rompendo-se com o status quo e com um sem número de tabus que foram quebrados e crenças desmistificadas.
A inteligência descobriu fórmulas e equações que deram vida a engenhosidades magníficas. A prensa móvel permitiu uma verdadeira revolução, ampliando a capacidade de levar o conhecimento a milhões de pessoas. O impossível passava a ser apenas como um ponto longínquo no retrovisor.
Enormes embarcações cruzavam oceanos, toneladas de aço passaram a cruzar os céus, foguetes levaram o homem até a lua. Quem disse que um certo operário chegaria à Presidência da República? Mas lá estava ele subindo uma certa rampa.
Vemos barreiras do impossível serem derrubadas todos os dias em nosso cotidiano. O pequeno time, que muitos pensavam não ganharia, realizou grande feito e calou um estádio lotado. Por falar em futebol, o que dizer de um pretinho magrelo que silenciou o mundo com seu talento e simplesmente se tornou o rei dos gramados?
Em comum é que, aqui ou acolá, alguém ousou sonhar o impossível. Lá ou aqui, seja na Europa centro do universo de outrora, ou na minha modesta Cajari, é preciso ter sonhos, ser perseverante e acreditar para não sucumbir.
Nessa jornada, do impossível, existem as armadilhas. Vaidade, arrogância, prepotência, medo, desesperança. Mas há também virtudes daquelas que saboreiam o doce da vitória, os que ousam ir além.
Creio que há duas palavras que definem bem aquelas pessoas que se destacam pela capacidade de realizar: acreditar e perseverar. Exemplos recentes marcaram a vida política de muitos municípios brasileiros.
Teve até quem foi chamado de tartaruga, mas que ao final da corrida, venceu a “astuta e rápida lebre”, tal como a fábula de Esopo, recontada por La Fontaine. Talvez a tartaruga, por não saber que era impossível, foi lá e fez. Simples assim. E já que beliscamos a velocidade com essa prosa, como não lembrar o saudoso Ayrton Senna? Seus feitos se eternizaram porque ele conseguiu transformar o impossível em “pó”.
Já as lebres, detentoras dos dogmas e verdade absolutas, que se avocam detentores e guardiões do saber, sucumbem ao raiar de cada dia. No jogo dos bichos, que nos ensinam lições para a vida, quem pensa ser peixe grande em dado momento, esquece-se que noutro pode não passar de uma indefesa sardinha, abandonada por seu cardume.
A vida não é só pensamento. Ela é como é, quiçá como na mais simples definição de Nelson Rodrigues. Teve padeiro e flanelinha que viraram juízes, guri de rua que virou jogador, operário que virou presidente. Tem quem nasceu em berço de ouro, mas afundou em meio às suas fragilidades ou ardendo na fogueira da vaidade. Tem de tudo nessa vida, inclusive o impossível.
Sim. O impossível existe, todos os dias! Mas somente para aqueles que permitem. Tudo é uma questão de acreditar. Por outro lado, há aqueles que simplesmente ignoram tal vocábulo.
Realizar feitos e alcançar posições que outrora pareciam inimagináveis depende apenas de uma questão: foco. Traçar um plano entre o ponto inicial e aquele que se quer chegar. O impossível só está até onde você ainda não foi, até onde alcança a sua limitação. O resto é realização.
Osmar Gomes dos Santos, Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.