São Luís está entre as capitais mais antigas do Brasil e uma das poucas a ter um repertório cultural tão vasto. Além da diversidade folclórica, já conhecida em várias partes do mundo, apresenta um conjunto arquitetônico riquíssimo e que precisa ser preservado.
É nessa linha, de preservação e manutenção, que a população maranhense recebeu reformadas, recentemente, as praças Deodoro e do Panteon. As obras, resultado de parceria entre o IPHAN e a Prefeitura de São Luís, devolveram um dos principais cartões postais da Cidade e do Estado.
O denominado Complexo Deodoro já foi palco de milhares de manifestações artísticas, culturais e políticas. Viu jovens ascenderem ao poder, movimentos estudantis e grevistas lutarem por direitos. Ali foi ponto de encontro para a classe média dos tempos áureos da Atenas Brasileira, onde muitos intelectuais, ainda em sua tenra idade, rabiscavam as primeiras estrofes.
Reunia-se a comunidade estudantil, com destaque para alunos do Liceu Maranhense, Escola Modelo, Marista e Santa Teresa, para citar alguns. Estudantes que ocupavam não apenas os bancos da praça, mas as cadeiras da imponente Biblioteca Benedito Leite.
O Complexo testemunhou as idas e vindas de uma sociedade que recorria ao centro da capital para resolver quase tudo relacionado à sua vida civil, de compras a consultas médicas. É para esta sociedade que o espaço é devolvido devidamente reurbanizado, um gesto de responsabilidade dos gestores públicos envolvidos.
A ação se soma a outras iniciativas recentes com a finalidade de recuperar e devolver espaços públicos para a população. Assim como ocorreu com o Complexo Deodoro, é louvável a recuperação da Rua Grande e do Complexo da REFSA, situado na Beira Mar. São obras adequadas aos tempos atuais, mas que também resgatam a memória e a identidade do povo ludovicense.
Importante destacar que o poder público cumpre seu papel ao entregar uma obra com acessibilidade, iluminação moderna e espaços de interação para o público que frequenta. Assim como devolver os bustos dos saudosos poetas que colocaram o Maranhão no mapa do conhecimento perante o Brasil e o mundo. Além disso, a obra promove a economia, ao fomentar o turismo na região.
Assim, vejo a importante inauguração sob dois ângulos. O primeiro é do impulso imediato que proporciona ao comércio local, ocasionado pelo grande número de frequentadores, fato que comprova a necessidade de termos mais espaços como o Complexo Deodoro em São Luís e no Maranhão.
A circulação de pessoas movimenta a economia e o mais importante: gera vida para a cidade. Ao se defrontar com a rica história encravada naquele espaço, os frequentadores reafirmam o quão importante é o legado cultural de um povo, que deve ser apreendido e reproduzido. Além disso, o convívio em espaços públicos permite maior interação social, proporciona o exercício da cidadania e fortalece a democracia.
Já, aí, faço um gancho para o segundo ponto que pretendo destacar. O poder público fez sua parte e, claro, precisa manter os serviços básicos pela manutenção do Complexo. Mas cabe ao cidadão se apropriar deste espaço que é seu, assumindo o papel de mantenedor do mesmo.
Nesse ponto, no que tange ao Complexo Deodoro, há duas vertentes sobre as quais avalio como dever do cidadão: conhecer e zelar pelo seu patrimônio histórico e preservar os aparelhos públicos disponibilizados como espaços de lazer.
Não é raro vermos praças e monumentos históricos abandonados e deteriorados, seja pela ação do tempo ou de vândalos. O cidadão precisa, portanto, tomar para si a responsabilidade de reproduzir às futuras gerações a importância histórica do Complexo Deodoro como um dos símbolos de nossa identidade.
Os bustos de consagrados escritores não estão lá por acaso, mas marcam um espaço de grande riqueza literária que ainda ferve nas palavras adormecidas entre as quatro paredes da suntuosa Benedito Leite. Escritos que remontam parte da nossa história, acontecimentos e fatos políticos.
Noutra via, considerando o Complexo Deodoro como mais um espaço de lazer, é preciso que o cidadão seja, também, um guardião do patrimônio que é de todos. Cuidados básicos, como não jogar lixo no chão, não rabiscar, não depredar as instalações são fundamentais.
No cumprimento de seu dever, o poder público entregou um presente à sociedade ludovicense. Convém, portanto, que esta mesma sociedade preserve esse espaço e toda a sua rica história para a posteridade. Preservar é a palavra de ordem. Para isso, precisamos, cada um de nós, amar mais a nossa cidade.
Reprisando Caetano Veloso em seu belo frevo “A Praça Deodoro é do Povo , como o Céu é do Avião “.
Osmar Gomes dos Santos
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.