São quase 18 mil km² de diversidade única, encravada no coração do Maranhão, na porção mais ao norte do Estado. Uma planície baixa, de onde provém sua denominação, que forma o mais rico bioma maranhense. Cultura, costumes, tradições, culinária, fauna, flora, clima e sua gente dão características peculiares a essa região que ficou conhecida como Baixada Maranhense.
Dentre os seus 21 valorosos municípios está minha amada Cajari, terra onde pude deleitar de seus campos e lagos, seja na labuta da pesada rotina ou nas brincadeiras de criança, ficando registrada minha saudação. Mas peço licença ao meu torrão para dedicar minha fala a toda Baixada, com toda sua abundância e riqueza.
Efeito direto do clima predominante na região norte do Maranhão, a Baixada é atingida por abundantes chuvas no período de janeiro a junho, o que garante água e fartura na mesa do baixadeiro. Peixes, aves e outros animais se multiplicam como em um milagre proposto pela generosa mãe natureza. Criam-se, assim, condições perfeitas para o plantio.
Atravessada por rios e repleta de lagos, é tida como o maior conjunto de bacias lacustres do Nordeste, o que lhe conferiu o título de “Pantanal Maranhense”. Toda essa riqueza faz da região uma fonte de vida para os moradores, principalmente aqueles que dependem diretamente dos rios – como o Pindaré, Mearim, Pericumã e Maracu – e dos lagos – tais como Capivari, Formoso, Coqueiro, Cajari e Viana.
Águas de acarás, traíra, bagrinhos, surubins, camurins, aracus, curimatás, jejus, pacus, cascudos, mandis, calambanjes e tantos outros peixes. Campos onde gorjeiam bacuraus, garças, gaviões, guarás, gueguéus, graúnas, jaburus, jaçanãs, japeçocas, juritis, maçaricos, pato-do-mato, siriquara, tetéu. Um espetáculo fascinante só visto em terras baixadeiras.
A bacia, onde a natureza se encontra com ela mesma, forma um ecossistema perfeito para a exploração de atividades que, mesmo de forma modesta, movimentam a economia local, baseada na agricultura familiar, extrativismo, pesca e pecuária, esta última ancorada na cultura bubalina.
Não se pode deixar de destacar a rica cultura da região. Aos poucos indígenas somam-se a remanescentes de quilombos, pescadores e agricultores familiares. Juntos, eles são responsáveis pela maior parte das manifestações culturais da região, muitas das quais abrilhantam festejos juninos em todo o Estado. Além disso, há a rica produção de artesanatos e técnicas culinárias só vistas na Baixada.
Mas apesar de toda riqueza a ser explorada, a Baixada também tem uma face cruel, que se manifesta com mais veemência nos períodos de seca. A abundância no período da cheia, quase que restrita a atividades de subsistência, não garante alimento e renda para todo o ano, cenário comprovado pelo baixo PIB per capita, que gira na casa de R$ 3 mil, menos da metade da média estadual, em dados de 2014.
Destaca-se que um grande percentual da população ainda depende de ações afirmativas desenvolvidas pelo poder público. Metade da população maranhense recebe, por exemplo, o bolsa-família, programa assistencial do Governo Federal, o que também é uma realidade na vida dos baixadeiros.
Aliado a fatores econômicos, estão problemas que surgiram com o crescimento populacional dos municípios e que vêm gerando impactos negativos, principalmente quanto à sustentabilidade. Falta de tratamento de esgotos, criação descontrolada de búfalos, além do extrativismo, caça e pesca predatórios, que estão entre os principais problemas a serem enfrentados. Razões que já ameaçam de extinção várias espécies locais.
Costumo dizer que a Baixada Maranhense é um diamante bruto e sua lapidação passa necessariamente por um plano de manejo eficiente integrado, capaz de aliar o desenvolvimento cultural, o aumento da produção agrícola e a exploração sustentável dos seus recursos. O seu grande potencial não pode ser subestimado e pode contribuir com o desenvolvimento do Maranhão, garantindo comida farta na mesa do maranhense.
Conjugar a geração de emprego e renda, valorização da cultura local e manutenção do meio ambiente equilibrado é um desafio a ser assumido por todos e um dever dos gestores públicos em promover ações de fomento a esse objetivo. Destaca-se, aqui, o valoroso trabalho desenvolvido pelo Fórum em Defesa da Baixada, entidade que vem chamando a atenção das autoridades para a necessidade de intervenções positivas na região.
Ao longo das últimas décadas, foi possível observar várias iniciativas que comprovam que basta ir além do discurso para realizar projetos que garantam as condições de trabalho ao povo baixadeiro, a exemplo da simples construção de diques em vários municípios, o que garante a reserva de água para a lavoura no período de estiagem.
Como se vê, a Baixada tem jeito, mas ainda é preciso avançar na aplicação de tecnologias e métodos mais modernos de produção. Não é sonhar alto esperar que a Baixada Maranhense desenvolva culturas que deem sustentação à produção maranhense, posto que a região foi destaque no século XIX, quando o algodão lá produzido abastecia o mercado internacional.
Tempos áureos não são meros fenômenos da natureza, não se concretizam como em passo de mágica, mas pelas oportunidades construídas pelo homem. Com inteligência e investimento é possível fazer a Baixada Maranhense florescer novamente.