*Por Osmar Gomes dos Santos
Como membro e ocupante da cadeira nº 14 da Academia Ludovicense de Letras – ALL, não poderia deixar de prestar minha singela homenagem àquele que é uma referência para mim e para a literatura maranhense e brasileira.
Organizei alguns estudos, que abordarei na sequência de cinco artigos, sem qualquer pretensão de entrar em questões polêmicas ou aquelas cujos entendimentos nunca foram devidamente sedimentados. Quero apenas rememorar e prestar reverência para um escritor que deu vida às folhas brancas com sua literatura social.
Nascido em 14 de abril de 1857, Aluízio Azevedo foi um homem cuja obra merece ser vista e revista por todo brasileiro.
Natural do Maranhão, se destacou no Rio de Janeiro, centro cultural de sua época, onde estudou pintura e desenho. Chegou a ser caricaturista, atuando na imprensa local, tendo atuado, também, como jornalista.
Em seus romances, trazia os amores e desamores, as alegrias e as dores, a bonança e a desventura de personagens marcados pelos carmas da sociedade machista, patriarcal, racista, preconceituosa, demagoga.
Influenciado pelo positivismo social, fruto de uma vertente dominante naquele período, entendia e descrevia em suas obras o ser humano como resultado do meio social no qual estava inserido.
O Mulato, obra que inaugurou o naturalismo brasileiro, foi uma produção de destaque, mas que não agradou a todos. Os traços da pesada crítica que marcou essa publicação se chocaram com interesses da elite e do clero, o que impôs a Aluízio um fardo pesado e alto grau de rejeição por certa parcela da sociedade.
Na sequência vieram diversos outros memoráveis escritos, como O Cortiço, considerada por muitos sua obra mais importante e Casa de Pensão. Escritos que retratam bem, cada um a seu modo, o comportamento da sociedade de sua época.
As características de suas obras trazem a marca da análise realística, do homem como fruto do meio e características sensualizadas, sempre marcadas por uma linguagem objetiva e uma ácida e assertada crítica ao moralismo daquele período.
Sem retratar o íntimo de seus personagens, não se prendia a estereótipos, mas a uma descrição mais genérica das massas. Seus enredos se desdobram em narrativas com diálogos recorrentes, direcionados por narradores oniscientes.
Em O Cortiço, obra marcante e a qual defendo como referência para análise social dos aglomerados urbanos dos dias atuais, ele traz figuras marcantes do meio que formavam o mosaico social de seu tempo. O português em sua ganância; o negro em suas mazelas; o mestiço discriminado; o fidalgo representante da burguesia e seus privilégios.
Aluízio foi o romancista que inaugurou o naturalismo sem abandoar sua paixão pelas narrativas românticas, inclusive em razão do valor comercial que esse gênero agregava no século XIX. Assim, ajudou a popularizar o romance vinculando sua proposta ficcional ao caso concreto, com base em suas experiências sociais.
Um homem que descreveu seu contexto temporal, espacial e social e marcou seu tempo. Escolheu não passar despercebido, mesmo que para isso tivesse que enfrentar a reação demagoga e hipócrita, que quase custou sua carreira.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.