Buenos Aires, 21 de janeiro de 1913, em terras “hermanas” o Brasil perdia um dos seus maiores expoentes na literatura: Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo
, membro fundador da Academia Brasileira de Letras e patrono da cadeira nº 04.
Natural de São Luís do Maranhão, Aluísio Azevedo foi fundador do movimento naturalista e tinha como marca a atenção aguçada para as problemáticas sociais que permeavam a sociedade brasileira na segunda metade do século XIX.
Quando jovem, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se dedicou ao desenho e fazia caricaturas e poesias na função de colaborador de jornais e revistas naquele estado. Inaugurou sua carreira literária com “Uma lágrima de mulher, em 1880”, sendo consagrado logo no ano seguinte com a obra “O Mulato”.
O livro ensaiava uma característica que marcara sua carreira como escritor, intelectual e crítico. Dono de um peculiar domínio das letras, retirava delas toda a acidez necessária para retratar as mazelas de uma sociedade aristocrata na qual os pobres e negros não tinham vez.
Com a coragem de um idealista, denunciou a situação do negro e das pessoas que viviam às margens da sociedade. Sua rica produção avança, abrindo espaço, também, para o inconformismo com os costumes e regras de conduta social. Como consequência de suas inquietudes, Aluísio Azevedo nos brindou a obra “Casa de Pensão” e com aquela que se tornou uma joia da literatura brasileira: O Cortiço.
Azevedo é daqueles escritores de vanguarda, que escreveram para a posteridade. Seus rabiscos não se perderam nos fundos de caixotes guardados sob a poeira de um porão qualquer. Forma ímpar com que discorrera sobre um capítulo social da nossa história fizera com que seus escritos se tornassem eternos.
Nesta semana, mais precisamente no último 21 de janeiro, completou-se 105 anos de sua perda, ainda jovem, aos 55 anos. No entanto, a ordem natural da vida não nos permite lamentar diante de tão importante contribuição de quem viveu tão intensamente e deixou uma herança inestimável a todos que ousam se debruçar sobre suas ideias.
Apesar da opção pelas letras, não se pode negar que Aluísio Azevedo foi um eterno pintor. Sua obra é tão rica e fidedigna à realidade que o cercara que parece projetar na mente do leitor imagens de tudo aquilo que é narrado detalhadamente. As páginas eram como telas, pinceladas graficamente com a essência social que passava a sua volta.
Em uma repentina mudança de vida, praticamente abdicou da vida de escritor para se dedicar à diplomacia, campo em que também fora bem sucedido, representando sua nação em diversos países mundo afora. Morreu em Buenos Aires, Argentina, em sua última missão como diplomata.
Embora tenha escolhido se recolher no anonimato literário desde então, suas a importância de suas obras já não cabiam em si. A essa altura, Aluísio Azevedo já havia deixado uma marca indelével, única, na literatura brasileira. Ele rompeu com preconceitos e ousou lutar contra o preconceito de cor, o adultério, os vícios e o povo humilde.
Ao escrever sobre Aluísio Azevedo, regozijo-me por dois motivos: o primeiro é vejo parte de minha trajetória de vida se passar na obra “O Cortiço”; o segundo é o fato de o suceder na cadeira nº. 14 da Academia Ludovicense de Letras.
Compor grupo tão seleto e sentar na cadeira inaugurada por um dos maiores expoentes da literatura brasileira é motivo de grande orgulho, mas também de grande responsabilidade.
Ao rememorar a data de sua morte, não se pretende reportar a um sentimento nostálgico com certo tom saudosista. Em uma sociedade ainda de grandes contrastes, sua obra permanece viva, pujante e indiscutivelmente atual.
Falar de Aluísio Azevedo, portanto, em qualquer contexto, em qualquer tempo, é se lançar no árduo desafio de dialogar com o contexto social, político e econômico que nos cerca. Mas, sobretudo, é juntar forças e se despojar para agir sobre essa realidade conferindo-lhe a mudança necessária para uma sociedade mais justa.