*Por Osmar Gomes dos Santos
Repente. Palavra com um significado claro, mas que, por vezes, traz inúmeras incompreensões. Deixa o vazio do porquê, de uma resposta que jamais virá ou já não fará tanta diferença se vier.
A tragédia recente na aviação que o Brasil viveu e ainda sofre o luto, deixou marcas profundas e muitas perguntas por serem respondidas. Histórias das mais diversas que se cruzaram em um ponto de interrogação. Fatos que em inúmeros acidentes automobilísticos ocorrem todos os dias e deixam mais vítimas ao longo do ano. A grande maioria, diga-se, por imprudência. Palavra que não deve, seja qual for a hipótese, constar no vocabulário do sistema aeroviário.
As rígidas normas não devem – ou não deveriam – permitir deslizes, imprudências, que arrastam sonhos em queda livre, ao longo de 5 mil metros. Na terra ou no ar, mistura de jeitinho com descaso e imprudência tendem a produzir um resultado perigoso, para não dizer trágico.
Daí porque o acidente aéreo, especialmente na aviação civil, costuma trazer uma comoção ainda maior, dado o número de vítimas. De repente, dezenas de pessoas, em alguns casos centenas delas, têm suas histórias rompidas por um destino que poderia ser evitado.
Há quem diga que todos têm a sua hora para partir. Não pretendo levantar essa discussão transcedental, mas tenho certeza que se prudências fossem adotadas com antecedência, o Dia dos Pais dos familiares de 62 passageiros teria sido de comunhão e alegria.
Não falo como especialista, mas leitor e espectador atento dos fatos, um tanto quanto curioso. Uma aeronave que teve a estrutura comprometida, passou por problemas em seu sistema antigelo por seis vezes somente em 2023, além de outros eventos de reparos.
Um histórico problemático, que deveria ter não apenas chamado atenção das autoridades, mas ter tido uma severa intervenção por parte destas. O alerta está no ar, com os pedidos de recuperação e os prejuízos bilionários. Chegamos ao ponto de questionarmos: quão seguro é viajar pelos céus do Brasil?
Nossa aviação é cara, os valores são elevados. O mínimo que esperamos por parte das companhias é a segurança ao voar. Dizem que a aviação é um meio de transporte seguro, mas é preciso não descuidar para manter essa máxima
A redução de custos jamais pode alcançar o plano de manutenção e a formação adequadas da tripulação. Sem levantar qualquer questão contra o piloto, não poderia haver um plano de prevenção de risco que possibilitasse contornar as condições climáticas adversas daquela tarde de sexta-feira?
Há quem diga que não devemos chorar o leite derramado. E vidas ceifadas? E vidas que se foram por, ao que parece, algum tipo de negligência? Acaso? Fatalidade? Não creio.
Fato que somente a conclusão das investigações poderão apontar as circunstâncias. Mas a cada nova notícia veiculada, permite formar um panorama mais claro do que pode ter ocorrido. Notícias essas que podem contribuir com a própria investigação, ao desvendar situações até então obscuras.
Diante dos sustos rotineiros e das tragédias eventuais, torcemos para que essa seja rápida e reveladora, a fim de não apenas responsabilizar culpados, mas de efetivamente poder provocar mudanças na forma como temos conduzido nosso sistema de aviação.
Ao cabo deste episódio, o alívio de quem não embarcou, o sofrimento daqueles que se foram e nada puderam fazer, impotentes, diante do fim iminente. Aos familiares e amigos de quem se foi, o sofrimento que fica para posteridade, dos sorrisos que agora alegram o céu. ROGO A TODOS OS FAMILIARES E AMIGOS, QUE TRANSFORMEM O TURBILHÃO DE DOR EM SAUDADES ETERNAS.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.