*Por Osmar Gomes dos Santos
Enquanto líderes mundiais se reúnem, a terra agoniza. Enquanto líderes mundiais discursam, a terra agoniza. Enquanto líderes mundiais confraternizam em torno de banquetes, a terra agoniza.
O mundo está à beira de um colapso sem precedentes, o qual coloca em risco todo o ecossistema terrestre.
Sim, isso inclui a minha vida e a sua, que, agora, dedica alguns poucos minutos à leitura deste artigo. Falo “nossas vidas” pelo fato de que a degradação é gigante e não mais uma ameaça apenas para as gerações futuras. O risco é iminente e presente. Já somos vítimas do calor escaldante, do frio extremo, dos ventos acachapantes, das tempestades que trazem inundações avassaladoras. Isso não é futuro; é o agora, o hoje. Aqui, nos países africanos, nas nações asiáticas, nos países oceânicos, europeus e sulamericanos. Vimos no sul do Brasil, vimos recentemente na Espanha.
Enquanto o caos toma conta do globo, líderes mundiais trocam sorrisos. Enquanto a chama transforma o verde em cinzas, os líderes trocam afagos. Enquanto animais são extintos e a cadeia alimentar entra em desequilíbrio, nossos líderes mundiais trocam apertos de mão.
De um lado a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2024, realizada no Azerbaijão; de outro, o encontro dos 20 países mais ricos do mundo, o G20, que este ano conta com variada programação e está acontecendo no Rio de Janeiro.
Em comum? Discursos, sorrisos, afagos, apertos de mão. Muitas retóricas, frases de efeito, discursos acalorados e cheios de sentido. No entanto, na prática poucas ou nenhuma atitude, contradizendo o dito, o que não tem menor sentido.
Pensamos como nossos sistemas de governo e nossos modelos econômicos permitiram chegar a tal ponto. Mesmo diante de um cenário caótico e de previsões a cada ano piores, somos surpreendidos com o discurso, proferido na abertura da COP 29, de que o petróleo é presente divino.Logo ele, o combustível fóssil, vilão do aquecimento global que transformou a vida na terra em uma grande panela de pressão que, aos poucos (ou seria rapidamente) eleva sua temperatura.
Com uma diferença, diga-se. Na panela convencional, temos o poder de ativar a válvula e reduzir a pressão. Na “panela da vida”, estamos rompendo esse limite a ponto de nada mais poder ser feito. Naturalmente, uma pressão que se eleva sem controle, tende a se transformar em uma bomba relógio.
Passou o momento dos discursos e o mundo precisa de atitudes concretas. Posturas que possam redirecionar comportamentos, redefinir pesquisas, pensar soluções que impactem menos no planeta, ao mesmo tempo que assegura o mínimo de conforto para seus habitantes.
Uma nova dinâmica, que passa pela reeducação acerca do consumo, que leve a uma reflexão necessária entre o necessário – o indispensável – e o supérfluo.
Enquanto nada se faz de concreto, segue a terra agonizando, como uma lenha que sofre consumida por uma chama ardente e que nenhuma gota d’água é jogada para aliviar sua voracidade.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.