*por Osmar Gomes dos Santos
O mundo vive uma crise humanitária sem precedentes. Guerras civis, guerras de nações, crise política, fome, condições climáticas. Fatores que têm empurrados fileiras de pessoas de uns Estados para as fronteiras com outras nações.
Sem qualquer receio das consequências – em uma aventura que pode lhes custar as vidas –, cidadãos se lançam ao mar, cruzam desertos, enfrentam frio extremo ou calor escaldante para tentar uma vida melhor.
Por um lado, algumas entidades e organismos internacionais se esforçam para debater e buscar soluções. Por outro, a indiferença, preconceito e discriminação de outras nações, em especial as mais desenvolvidas, contribuem para agravar a crise.
Ao passo que a crescente xenofobia cria um grande abismo entre pessoas, os laços comerciais permitem a livre circulação de mercadorias mundo afora. Teriam elas mais valor ou importância que as pessoas?
Não se trata de uma análise rasa do problema, mas uma reflexão sobre o que de fato estamos construindo enquanto mundo. Em tempos de discussão de uma cidadania transnacional, para além dos limites geográficos, mas fundada nos direitos e garantias fundamentais, essa discussão precisa ganhar contornos robustos.
Nações precisam se unir para além do G7, G20 ou dos fóruns, feiras e encontros que visam apenas ao fomento da economia. Bens e dinheiro são apenas instrumentos de troca, criados por nós, e não podem fazer desaparecer a humanidade que carregamos. Somente esta é capaz de nos fazer voltar a atenção ao nosso semelhante com olhar solidário, de nos mobilizarmos para estender a mão em ajuda àqueles que precisam. Pessoas não abandonam suas casas, seus lares, parentes, raízes simplesmente pela tentativa de um mundo, uma vida, “melhor”. O que seria tal país melhor?
O comportamento das nações mais ricas reproduziu uma cultura de xenofobia fundada na aversão ao pobre, sob o falso e infundado pretexto nacionalista. Preconceitos de cor, etnia, idioma, nacionalidade, mas, sobretudo, a intolerância com o pobre, uma vez que ricos circulam facilmente entre países. Ao cabo, que os milhões de refugiados no mundo buscam é apenas a oportunidade de sobreviver.
O mundo vive um momento particular de sua historia. Reforça-se: grandes movimentos populacionais no mundo estão fugindo de uma crise sem precedente. Pessoas que, certamente queriam estar em seus países, com oportunidades para trabalhar e viver em plenitude a sua cultura.
Em vez de guerras, deveríamos estar construindo planos de desenvolvimento comuns. Onde existem abismos, deveríamos construir pontes que nos unem por aquilo que ainda temos em comum: a humanidade.
O assunto precisa ser colocado com seriedade na mesa de discussão e não apenas na busca de soluções paliativas, como filantropia em favor dos menos favorecidos. Enquanto estes ficam com as migalhas, as grandes nações participam dos gordos banquetes. Vide a vacina da Covid-19, que chegou tardiamente às nações mais pobres.
As nações mais ricas do mundo, especialmente aquelas que saquearam as riquezas das nações tidas como menos evoluídas, precisam assumir suas posições de forma séria. A conjuntura não aponta para outro caminho, se não o da construção de uma nova ordem mundial.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.