*Por Osmar Gomes dos Santos
No último 11 de maio foi comemorado o Dia Nacional do Reggae, em alusão ao cantor Bob Marley, um dos maiores símbolos e a principal voz do reggae, que nos deixou há 42 anos. Bob levou o ritmo jamaicano para vários cantos do mundo, mas em nenhum criou raízes como aqui.
Sou felizardo por ter visto de perto a explosão do reggae nesta Ilha. Ritmo musical que virou símbolo e deu a São Luís o codinome de Jamaica Brasileira, o reggae, aqui, encontrou terra fértil e desabrochou.
O reggae virou Patrimônio Cultural Imaterial, título concedido pela Unesco que imortaliza o estilo e o reconhece como cultura, tradição e identidade de um povo. E foi dessa forma que o movimento ganhou força na capital maranhense, tornando-se sinônimo de resistência e admiração.
Resistência que vem do gueto, do beco, da periferia, das palafitas. Dos rincões de onde o reggae, mais que tocado e ouvido, ele é sentido com a alma. Reggae foi a voz de um povo que lutou contra opressão e descaso de governantes.
Suas letras entoam protestos em torno de questões sociais, étnicas, religiosas e até de gênero. Mas falam também de alegria e da esperança de podermos viver sob a mesma bandeira do respeito, da tolerância e do amor.
Aqui em São Luís, o reggae já faz parte da cultura local, definitivamente. Embora não seja um exímio estudioso, arrisco-me a dizer que a década de 1990 foi o auge do reggae no Maranhão, especialmente em São Luís.
Foi nesse período que o ritmo musical emergiu da periferia e ganhou espaço em todos os cantos da Ilha, sendo bem aceito na classe média. Esse movimento fortaleceu o reggae, até então visto com muito preconceito e discriminação.
Época de grandes casas de festas, como Toca da Praia, África, Equator, Barraca de Pau, Quilombo, Espaço Aberto. Este último, inclusive, marca uma virada no perfil dos admiradores, atraindo gente das diversas camadas sociais, artistas e gente famosa de São Luís, além de muitos turistas.
O reggae é hoje um elemento tão forte da cultura de São Luís, que a cidade é reconhecida como capital do reggae no Brasil. Independente de lei que reconheça tal feito, ele está na essência de um povo.
Lá se vão quatro décadas e o reggae segue mais vivo e forte do que nunca, com suas radiolas e paredões que ecoam um som estridente. Ritmo que faz gemer as pedras de cantaria, estremecer casarões e se admirar igrejas e sobrados.
Que venham mais quarenta anos, agarradinhos. No embalo original do preto, do branco, do pobre, do rico, cada um na sua própria vibe, unindo todas as tribos em um só espírito universal de fraternidade.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.