Eis que é chegada a hora da simbólica visita do Menino Jesus. Preparativos, enfeites, árvores, guirlandas, cartinhas e luzes a piscar. O Natal é mágico e cheio de mistérios, mexendo com a imaginação de todos nós, adultos e crianças.
Traz consigo um momento imperioso de reflexão. Pensamentos devaneios sobre nossas atitudes e também acerca de tudo que vimos acontecer mundo afora. O balanço é de que foi mais um ano difícil, mas que a superação nos fez mais fortes.
Adentramos 2021 ainda no escuro. Sem saber até onde chegaríamos, como seria o desenrolar da pandemia, se a cura viria a tempo, até que ponto a economia aguentaria as medidas restritivas ao deslocamento, tão necessárias para continuidade da vida.
2022 se anuncia e com ele a esperança daquelas respostas que não vieram. A única certeza que temos é daquilo que já está consumado, acontecimentos cuja inexorabilidade temporal já não permite qualquer ação humana capaz de modificar os fatos.
A procissão da vida segue seu rumo, sempre adiante, independentemente do que tenha acontecido. Vidas que se foram, pelos mais diversos motivos, mas nenhum como o da Covid-19. Seiscentas mil vidas: pai, mãe, filho, irmão, parentes, amigos. Bom que se diga, não eram apenas números.
Assim, aprendemos que nunca a saúde foi algo tão essencial para as gerações que convivem no cenário atual, dos mais antigos aos mais jovens. Ainda não tínhamos convivido com um inimigo tão poderoso. Do primeiro espirro à confirmação, passando pelo isolamento domiciliar ou pela necessária internação.
Nos hospitais lotados a presença constante era sempre da incerteza, da preocupação com o próximo estágio da doença. Como será? Vou piorar? Será necessária a internação? Meu organismo está preparado para enfrentar o mal? Vou morrer?
Os reflexos da doença foram intensos e repercutiram nas mais diversas áreas, expondo as fragilidades de gestores públicos que não souberam lidar com a enfermidade, que já havia sido anunciado um ano antes.
Mesmo após avanço da ciência, como nunca tínhamos presenciado, muitos relutaram em compreender a importância do antídoto trazido pela ciência. Continuamos a presenciar cenas e declarações de pura estupidez, carregada do que há de mais antipático na espécie humana: vivemos a negação do mal e, consequentemente, a negação do próximo.
A educação pública entrou em colapso e ainda não recuperou o tempo perdido. No cenário político, demos murros em pontas de facas e caneladas nas políticas públicas. A economia patinou e entre fechamentos e aberturas de novos negócios, ainda tenta se reerguer.
A inflação deslanchou e passa dos 10% nos últimos doze meses, algo há muito não visto. Na esteira do caos econômico, a corrosão do poder de compra, especialmente dos mais carentes. Nem precisou do bacalhau para a ceia natalina ficar “salgada”.
O momento, como dito alhures, é especialmente de reflexão. 2022 será um ano decisivo nas mais diversas frentes. Cabe a cada um de nós escolher os caminhos que o Estado e a nação vão trilhar.
Não é novidade que um mundo melhor é possível a partir das nossas escolhas individuais. Que neste ano que se inicia, possamos tomar decisões mais acertadas, pautadas no equilíbrio, sem que as paixões falem mais alto que a razão.
Razão, a propósito, é a chave para conseguirmos destravar muitos nós que se encontram adiante. É um ingrediente fundamental, sem o qual não existe lucidez para as decisões que precisam ser tomadas.
Por falar em decisões, que perpassam nossas atitudes, desejo que em 2022 tenhamos um pouco mais de empatia para com o próximo. Aqui, compaixão não se trata de agir com emoção, justamente o contrário.
Quando deixamos a razão falar mais alto e enxergamos o mundo um palmo a frente de nosso nariz, nos permitimos reconhecer que além de nós há muito mais necessidades do que nosso quadrado permitiu enxergar.
Pessoas doentes, sem trabalho, sem renda, sem o básico para uma vida digna se multiplicam país afora. Cidadãos e cidadãs que precisam muito do pouco que podemos ajudar, brasileiros e brasileiras que só precisam de esperanças para voltar a acreditar.
No ano que se inicia, transforme suas ações em atitudes positivas. Escolha ser luz que aquele necessitado tanto espera. Não apenas em bens materiais ou valores financeiros, mas a chama que renova a fé, que recobra as forças e devolve a esperança.
Osmar Gomes dos Santos. Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.