*Por Osmar Gomes dos Santos
Punhos cerrados e braços erguidos. Este sinal tem se tornado cada vez mais comum, diante dos inúmeros casos de racismo que vem acontecendo no mundo e que afeta não mais recintos fechados, mas extrapola fronteiras geográficas e ganham notoriedade pelas telas mundo afora.
Os sistemáticos casos de racismo por que vem passando o jogador Vinicius Junior nos últimos meses expõe uma ferida jamais cicatrizada no seio da sociedade europeia, aquela que se julgava mais evoluída no fim do século XIX e início do século XX. Havia até estudos para “comprovar” a dita superioridade.
Folhas e folhas de experimentos realizados, evidências coletadas, análises cheias de justificativas vazias. Os estudos antropológicos e sociológicos, no entanto, avançaram e suas teorias evolucionistas foram suplantadas.
Por outro lado, o que parece não estar superado é o preconceito, o racismo, a discriminação que insiste em se manifestar em comportamentos daqueles que deveriam se entreolhar como iguais, comuns, humanos.
Retomando, apenas por provocação, às famigeradas teorias; questiono o que seria selvagem na escala evolutiva: o comportamento ignóbil daqueles que cometem atos de racismo ou daqueles que são vítimas dessa barbárie moderna?
Naturalmente que é uma pergunta retórica e nem pretendo lançar aos malfeitores qualquer adjetivo que os coloquem em uma escala inferior de cognição. Não! Eles sabem e são conscientes de seus atos covardes, canalhas, desumanos, criminosos.
Quem compactua com tais práticas, ainda que por omissão, como a Liga Espanhola, é tão covarde quanto aqueles que vão para os estádios afrontar o espetáculo. O que incomoda tanto aquele que avoca ser superior em relação ao seu irmão de cor?
Uma pitada dessa resposta está no fato de que a carne mais barata do mercado não é mais a carne negra. Nós, pretos, estamos ocupando espaços de destaque na sociedade, nas mais diversas áreas. Vinicius Júnior joga um futebol primoroso e é um dos jogadores mais valiosos do mundo.
Talento, habilidade, inteligência. Características que não estão vinculadas à cor da pele. Retidão, educação, respeito, humanidade. Estas, são características ligadas ao caráter.
Muito se fala de “inclusão racial”. Não discordo dessa expressão, entretanto, prefiro ir além dela e dizer que devemos superar a retórica da inclusão, passando a ações concretas, mas, sobretudo, uma inclusão humana. Lembro-me, neste instante, de um comercial que dizia “muitas cores, uma só raça: a humana”.
Não estamos falando de um ser estranho, que merece ser acolhido, quase que por caridade, como se não pertencesse à espécie homo sapiens. Daí que afirmo que a inclusão não é do branco, preto, pardo, amarelo. É do ser humano. O que está faltando para que assimilemos isso de forma definitiva?
Enquanto nada muda, seguimos na luta. Cabeça erguida e punhos cerrados àqueles que sofrem a dor de serem discriminados todos os dias. Somemos esforços nessa luta que é de todas e todos. Não vamos nos calar. Racistas não passarão.
O gueto ganhou o asfalto, os pés descalços brilham nos gramados mais caros, o preto está sentado nos bancos das faculdades, os pretos estão assumindo seus lugares por direitos. Para que dizer isso tudo? Simplesmente porque faz-se necessário mostrar para alguns que não somos nem mais, nem menos, somos diferentes! Minha voz não busca calar a do próximo. “Grito” para mostrar que eu existo.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.