*Por Osmar Gomes dos Santos
O texto bíblico fala de uma certa Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, cujos frutos levariam Adão e Eva a conhecer, como o próprio nome diz, o lado bom ou ruim da vida.
Teria Satanás convencido os primeiros habitantes a comerem do fruto, sobre a falsa promessa de que nada aconteceria? Teria sido essa a primeira fake news? Uma mera desinformação? Ou apenas a propagação de uma notícia errada?
Muitas são as probabilidades, mas a constatação é que essa prática se reverberou ao longo dos tempos até os dias atuais.
Na Roma Antiga, ainda pelos idos de 33 a.C., Otaviano, primeiro imperador romano, iniciou uma campanha difamatória contra Marco Antônio. A lealdade deste à Roma foi colocada em xeque, por causa de seu amor por Cleópatra.
Sucederam-se tantas outras narrativas mentirosas, como aquela que levou Cristo ao calvário; a que incendiou mulheres acusadas de serem bruxas; a que sob o pretexto raso definiu o europeu como povo superior; ou mesmo aquelas contadas para justificar as guerras.
Como dizia minha mãe, a mentira é como o roubo: “muda de tamanho, mas a essência é a mesma.” Não importa em qual dimensão, o certo é o certo, e o errado será sempre o errado.
Entretanto, o que de fato é certo ou errado? Qual o conceito de verdade ou mentira?
Desinformação pode ser definida como uso de técnicas para induzir ao erro, mediante a supressão, omissão ou modificação de informações.
Já as fake news, no conceito moderno que se convencionou denominar, pode ser compreendida como aquela informação totalmente inverídica, criada para enganar e levar pessoas a assumirem posturas favoráveis diante de algo inverossímil. Fato é que ambas têm um efeito nefasto sobre o exercício da cidadania e a democracia. Informações desprovidas de veracidade levam a atitudes que não encontram base no terreno do Estado de Direito, enfraquecem laços, colocam comuns em disputas irracionais.
Agora, neste exato momento, se você fosse convidado a falar sobre as verdades das guerras da Rússia e Ucrânia ou aquela mais recentes entre Israel e Hamas, por onde acha que poderia começar? Já é ditado comum que na guerra, a primeira vítima é a verdade.
Acostumamos, ao longo da história, a aceitar a verdade contada pelos vencedores. Aquelas mesmas que vão para os livros, a exemplo da que aprendemos sobre o “Descobrimento do Brasil”.
Assim como no Jardim do Éden, espalhar mentiras, enganar, dissuadir pessoas com a finalidade única de propagar algo em descompasso com aquilo que se entende e se prega enquanto verdade é perigoso.
Esse terreno se torna ainda mais minado em tempos de “inteligência” artificial. A exemplo, quem viu na última semana, roupas de adolescentes serem “tiradas” em programas de computação? É necessário estar ainda mais atento para essa pauta e a educação é o único caminho para o resgate dos valores que vão se perdendo pelo caminho.
Sobre a verdade, entende-se aquela aceita pela maioria, eivada de bom senso, de racionalidade, com base lógica e científica. Saber a diferença entre verdade e fake news não é assim um desafio hercúleo.
Basta avaliar se aquilo que é dito afetará terceiros. Se está em descompasso com a ordem social, em equilíbrio; se afeta o exercício da cidadania e agride o Estado Democrático de Direito. Esse exame deve ser feito por cada um ao compartilhar informações, no mínimo, sem base de sustentação.
Antes de acreditar cegamente e compartilhar mensagens sem qualquer fundamentação, pare, pense e reflita. E se fosse com você, com um amigo ou com alguém de sua família? A tecla “enviar” do bombardeamento público seria acionada?QUEM PRATICA E QUEM COMPARTILHA FAKE NEWS DEVE SER PUNIDO SEVERAMENTE.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.