Muito se tem discutido sobre o atual cenário político brasileiro. Dos mais ávidos e letrados estudiosos aos ditos leigos – que compartilham dos debates nas rodas de conversa esquinas afora –, cada um tem uma opinião formada quando se trata de apontar novos rumos para a nação. Essa efervescência de ideias é importante para a consolidação da democracia em nosso país.
No Brasil, política tem sido sinônimo de algo ruim, desprezível, e que precisa ser extirpado da sociedade. Ledo engano! Não se pode retirar do seio social aquilo que é uma das marcas mais indeléveis do ser humano: o ser político. A política, na sua boa essência, é fruto das práticas sociais na vida em comunidade. O homem é, fundamentalmente, um animal político, na melhor acepção aristotélica.
Há mais de dois milênios, ainda na Grécia Antiga, Aristóteles aqueceu os debates sobre a conduta humana na vida em sociedade e a importância da política na promoção do bem estar social. Seus estudos serviram de base para pensadores que se debruçaram a pensar o formato de sociedade ideal, de tal forma que caberia a todos, e não apenas aos ditos sábios, a condução da mesma por caminhos retos, balizados pela ética e moral que deve nortear as relações humanas.
É nisso que consiste a linha de raciocínio desenvolvida neste texto. A participação política não está reservada aos sábios, intelectuais, letrados, mas intrínseca a todo cidadão capaz de analisar, discutir e, acima de tudo, participar do jogo democrático que é a política. Esse formato condiz com o que Aristóteles chamou de vocação essencial da cidade, regida por leis comuns a todos e não por um setor dela.
As práticas sociais em nosso país vão nesse sentido e têm dado provas do avanço de nossa juvenil democracia. A liberdade de expressão e de manifestação do pensamento, inclusive amparadas nos modernos meios de comunicação, mostram-se práticas consolidadas que permitem manifestações de posições sobre os mais variados temas difundidos na esfera pública, com destaque para o debate político.
Contra ou a favor, hoje os cidadãos têm garantido seu espaço de produção de discurso em defesa de seus ideais. No jogo político, a única postura que não cabe – no meu particular entendimento – é a da omissão, da inércia diante dos acontecimentos que impactam na vida de toda sociedade e de forma singular a cada um de nós.
Apesar dos últimos escândalos no seio político brasileiro, em todas as esferas de poder, é salutar a renovação pela qual a mesma vem passando. A cada novo pleito eleitoral, pela via do sufrágio universal, temos a oportunidade de conhecer novos atores políticos que assumem o desafio de participar ativamente da política. A sedimentação completa desse fenômeno ainda pode demorar um pouco, mas certamente seus efeitos iniciais já começam a ser sentidos.
Importante que se diga que este espaço não esta reservado aos intelectuais, detentores de bens ou linha hereditária. O espaço político, o mesmo no qual o jogo da política se processa, está aberto à participação de todos, indistintamente. A participação democrática garante equilíbrio social e a concretização de um modelo de política a qual Aristóteles conceituou como a ciência da felicidade humana, resultado das práticas sociais comuns aos cidadãos que por sua vez estariam na busca da felicidade.
Nessa busca pelo bem comum, o país vive um momento em que passa a limpo a sua história. É hora de renovar, de acreditar, de passar da crítica à ação na luta por um país mais justo. Seja para escolha dos representantes, seja para colocar-se como representante, ou simplesmente agir para mudar a realidade da nação, é preciso sair da zona de conforto.
Cada cidadão precisa deixar de ser espectador, mero coadjuvante, para se tornar protagonista da mudança que almeja.
A política não mudará! Ela é e continuará sendo o meio para alcançarmos uma sociedade mais justa e igualitária. O que precisa mudar é a nossa postura diante do quadro ora instalado.
Osmar Gomes dos Santos
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís
Membro das Academias Ludovicense de Letra, Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.