*Por Osmar Gomes dos Santos
Não é uma tarefa fácil fazer uma análise crítica acerca do arranjo social e político dos países que integram o oriente ou, pelo menos, parte dele.
Um barril que parece sempre ter pólvora para queimar. Por óbvio, não vou me ater a questões religiosas, muito embora muitos fundamentalistas se assentem sobre esse pretexto para justificar seus atos e atrocidades contra seus comuns. Após os conflitos envolvendo Israel na Faixa de Gaza e Líbano, agora é a Síria que ganha o centro das atenções, depois de levante de cidadãos, chamados de rebeldes, que empunharam armas e depuseram o presidente ditador Bashar al-Assad, o qual pertencia a um regime que perdurou por meio século.
O avanço de cidade em cidade não denota um ato de rompimento abrupto com um regime opressor, pois esse processo vem acontecendo há décadas, tendo conseguido uma grande mobilização em 2011, que foi reprimida pelas forças do ditador; portanto, se configurou como uma guerra civil desde então, deixando mais de 500 mil mortos.
Agora, diversos grupos se uniram e avançaram de cidade em cidade, forçando a renúncia e retirada de Assad.
O povo tomou o poder? Bom, isso ainda é cedo para saber.
O certo é que, neste momento, há um vácuo de poder na Síria. São muitos os interesses dos grupos que agora tomaram o poder, muitos dos quais não são compatíveis ideológica e politicamente, bem como os diferentes apoios por outros grupos e nações. Desafio que só aumenta com a situação financeira do país, que é caótica.
Um fôlego poderia advir de americanos e europeus, ao retirarem sanções econômicas, ou parece já está em análise. Há, ainda, grandes quantias de valores congelados em outros bancos, como na Suíça, de pessoas ligadas ao regime que ruiu.
Fala-se em retorno dos refugiados, que temiam uma resistência das forças de Assad. No entanto, esse é um movimento que deve ser gradativo e depende do grau de pacificação a ser alcançado.
São muitos grupos e outras pequenas milícias que agora vão travar uma disputa pelo controle dos mais diversos setores. A transição política ainda se mostra um caminho complicado e incerto.
Como em um jogo, as peças estão sobre o tabuleiro e esses grupos sírios precisarão de harmonia para operar essa montagem. Esse quebra-cabeças que se chama democracia, exige precisão e acerto. Do contrário, cada peça fora do lugar será um perigo ao retrocesso e continuidade do caos.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas; Matinhense de Ciências, Artes e Letras e ALMA – Academua Literária do Maranhão.