Você repassaria à frente essa afirmação? Naturalmente ela é falsa e colocada de forma proposital no título deste artigo para nos fazer refletir. Poderia ter escolhido outra afirmação: a terra não é redonda; a força da gravidade não existe; os dinossauros nunca estiveram aqui. Preferi aquela que ainda fascina a muitos e que suscita debates que esbarram em teorias da conspiração mundo afora.
O título escolhido é meramente provocativo e poderia vir fundamentado com falsos e robustos argumentos sobre a odisseia humana fora da terra. Assim são as inúmeras afirmações que recebemos diariamente com a pretensão de nos fazer crer “cegamente” em algo e simplesmente passar adiante sem qualquer juízo de valor.
Não é problema viver cercado de informações, mas é preciso saber lidar com elas. Digo isso, obviamente, não sugerindo que seja necessário ter acesso a todas elas, o que seria impossível, mas alertando para como deve se dar a “relação” com as mesmas. O simples fato de selecionar umas em detrimento de outras é um ato consciente no contato com o conjunto de dados que chegam a nós diariamente.
O perigo reside quando a razão foge ao trato com aquilo que chega aos nossos dispositivos eletrônicos e simplesmente selecionamos e clicamos, passando adiante o que parece uma informação sem ao menos ler. A obrigação da análise consiste no fato de que os prejuízos advindos para humanidade dessa prática são muito maiores do que qualquer fator positivo. Se é que daí podemos enxergar algo de positivo.
Vivemos um momento ímpar na evolução da sociedade. Nunca antes se produziu e se difundiu tanta informação como agora e a cada ano essa produção praticamente dobra. Correntes, receitas, fofocas, crenças, acontecimentos, remédios, política, economia. As notícias falsas circulam em todas as direções e sobre todos os temas.
Mas importante que se diga, elas não constituem qualquer novidade. Existem desde que o mundo é mundo e existirão enquanto houver pelos menos dois humanos pisando nesta terra. O “x” da questão reside justamente na facilidade de disseminação delas, hoje chamadas, fake news, em virtude do aparato tecnológico que utilizamos para nos comunicar uns com os outros. Se antes era necessário o contato corpo a corpo para repassar uma informação, hoje basta selecionar e enviar a centenas de contatos em apenas alguns segundos.
Em plena pandemia da Covid-19 as notícias falsas circularam livremente e literalmente viralizaram, causando danos incalculáveis e resultando até em mortes. Remédios imbatíveis, tratamentos e curas milagrosos, chás que limpam o organismo, conspiração chinesa, vírus que só ataca idosos, atletas imunes à contaminação, vida extraterrena, falsos médicos, depoimentos sem qualquer cientificidade. Um cardápio regado de assuntos indigestos.
São tantas aberrações sem qualquer respaldo na medicina que se fosse outro momento até ficaria mais fácil de acreditar. Mas hoje, em um contexto atravessando informações geradas por fontes confiáveis e ao alcance de todos, parece que estamos adotando o exercício do lado obscuro da nossa inteligência. Por posições adotadas, parece querermos enxergar e acreditar apenas naquilo que nos convém, motivo pelo qual ficamos vulneráveis às notícias maliciosas.
Foi dada a largada para a corrida eleitoral e com ela cresce o volume de fake news ( mentiras, inverdades) que circulam na grande rede. A polarização política e os ânimos acirrados contribuem para o cenário do caos informacional e o cometimento de práticas espúrias, desqualificando o debate legítimo que o momento merece.
Apesar dos mecanismos adotados pela Justiça eleitoral, há uma grande probabilidade de que esta seja a eleição com maior volume de fake news em circulação. É imperativo ficar atento. Por mais aparentemente inócua que possa ser, ainda que com traços de utilidade pública, não passe adiante sem verificar a autenticidade.
No âmbito jurídico, já há avanços para que punições sobrevenham a essas práticas. Mas é preciso o amadurecimento social. Compartilhamento de fake news é uma prática que serve exclusivamente para denegrir, atacar, mentir. É um serviço prestado ao “mau caratismo”, cujos interesses obscuros se sobrepõem ao bem comum, ao mesmo tempo em que é um desserviço à nação.
Somos cumplices, partícipes ou, no mínimo, coniventes quando simplesmente repassamos adiante informações inverídicas. E não tem desculpa para tal ato. Atualmente já possuem sites diversos e mecanismos de verificação acerca da veracidade das informações que viralizam via dispositivos eletrônicos.
A regra é quebrar a cadeia de confiança e exercitar a desconfiança, mesmo que essas notícias cheguem de amigos próximos e até parentes. Em tempos de total descontrole sobre as fake news, a maior arma contra essa prática está em nossas mãos.
Diante de um mar de dados é preciso, antes de tudo, duvidar. Verifique a grafia, a gramática, os excessos, os termos apelativos. Apoie-se nas consultas a portais sérios de notícias. Duvide sempre e desconfie. Por mais bem embalada e elaborada que venha a informação, faça como no ditado: quando a esmola é demais, o santo desconfia.
Osmar Gomes dos Santos, Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.