*Por Osmar Gomes dos Santos
Recentemente a região da Amazônia Legal foi destaque nos holofotes regionais, nacionais e internacionais. Clima, meio ambiente, preservação, pesquisa, exploração, degradação, desmatamento. Todos esses são termos que estão no bojo da retórica do “protecionismo” ambiental.
São temáticas que funcionam muito bem, mas, dialeticamente, resultando em pactos e cartas aos moldes do velho ditado para “inglês ver”. Congressos, seminários, cúpulas e uma infinidade de outros encontros que me fazem lembrar acontecimentos como a Rio 92 e Acordo de Paris. Encontros inócuos? Talvez. A natureza diria que sim. O desmatamento segue aumentando, temperatura sendo elevada, desertificação crescendo, calotas de gelo derretendo. A Terra grita!
Os efeitos de toda essa mudança seguem cada vez mais violentos, com furacões e tempestades mais frequentes. Ondas de calor contínuas e excesso de chuvas sem quaisquer precedentes noutras partes do globo. Enquanto a natureza agoniza, burocratas seguem em suas vestes de linho, camisas e gravatas de seda, abotoadeiras folheadas a algum metal precioso que, ironicamente, fora extraído de áreas que agora dizem se reunir para tentar proteger.
Com o perdão do tom, este não é um discurso de ataque, quiçá direcionado, porém, falo como cidadão, dentro da boa essência política aristotélica, que espera resultados de um mundo cujo discurso tem sido fantástico. Remete-me a um narrador de notas de escolas de samba: nota 10!
Por outro lado, na prática, estamos pobres de ações efetivamente resolutivas, soluções racionais que possam ser tiradas do papel. Discursos efusivos, conversa afinada, habilidades nas falas, dados, números, relatórios; mas e as ações concretas?
A natureza segue agonizando. As florestas nas mãos de desmatadores, exploradores e, agora, a Amazônia brasileira, na mira dos caçadores de ouro negro. Ah! Que maravilha, seria se de fato, o meio ambiente fosse tão importante quanto são as cifras.
Sinto que na maioria das vezes quem realmente deveria estar sentado nessas rodas de conversa, sequer tem espaço para participar como ouvintes. Decide-se a política para índios, pecuaristas, pequeno criador, grande agricultor, pequeno agricultor, mas sem que estes participem do debate.
As botas sujas de lamas não são bem-vindas ao piso devidamente polido? As mãos calejadas não comportam uma delicada taça de cristal? A fala simples não encontra lugar na gramática rebuscada? Faz-se necessário dizer que estes perfis têm características que estão carregadas do anseio de participar, de contribuir e de efetivamente encontrar soluções para o cotidiano. Nestas pessoas, ditas simples é possível verificar algo que raramente é encontrado nas vestes de grifes ou no discurso ensaiado: o conhecimento de causa.
A mata tem vida. Índios, ribeirinhos, povos nativos. Cidades cresceram por dentre as matas e hoje são selvas de pedra. Política pública se faz “com” e não “para”. Mesmo no exercício da representatividade, é preciso buscar a compreensão do outro, a inteligência do outro, a experiência do outro. Buscar inserir no processo quem tem a vivência na prática.
Enquanto a terra arde e a mata sucumbe, ajeitam-se os nós das gravatas, ajustam a pose entre uma foto e outra, com o sorriso que será replicado em periódicos e uma infinidade de páginas virtuais.
Apenas para falar de Brasil, ao se olhar para a história, ficamos para trás de muitos países, entretanto, destaco, pelo menos, dois como exemplo: a Índia, que acaba de conquistar a lua; e a Coreia do Sul, que zerou seu analfabetismo e está entre os mais desenvolvidos do mundo.
Seja em Terra de Vera Cruz ou para além-fronteiras, os problemas mundiais comuns a todos já passaram da hora de serem tratados como realmente deveriam. É hora de falar de futuro, mas também de corrigir rumos no presente.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.