Tivemos a oportunidade de acompanhar mais uma Olimpíada, desta vez a de 2020 (2021). A maior festa mundial do esporte, congregando as mais diversas modalidades, muitas delas estreando nesta edição dos jogos e consolidando o sucesso esperado, como foi o caso do skate e do surf.
Desde a organização, passando pelas disputas até a entrega das medalhas os jogos deixaram lições para toda a humanidade. No início da pandemia da Covid-19, o Comitê Organizador, em uma posição arrogante, anunciou que os jogos aconteceriam na data e como programado, ainda em 2020.
A pandemia entrou em sua fase mais aguda, inclusive no Japão, e aquela posição vaidosa foi varrida pelos fatos, resultado: jogos adiados. Ainda assim parece que algumas pessoas não aprendem e novamente a Organização voltou a desafiar as forças supremas e circunstanciais ao afirmar que, já em 2021, haveria torcida nos jogos e o resultado: nada de torcedores nas arquibancadas.
Com os jogos rolando, os exemplos bons e ruins vieram dos atletas, cujo suor derramado carregava a esperança de medalha dos milhões que torciam de suas casas em suas nações.
O Brasil levou uma grande delegação, que encantou em algumas modalidades e em outras, tidas como certeza de medalhas, não foi tão bem assim, o que faz parte do esporte. A glória olímpica não cabe a todos os competidores a todo momento e o sorriso de ontem pode se tornar na lágrima de amanhã.
Sofremos no futebol feminino, no vôlei de quadra e de praia, no handebol, na canoagem e em outros esportes com alta expectativa de medalha. Ainda assim, o Brasil alcançou feitos inéditos.
Entramos para a galeria olímpica com o primeiro ouro do surf e a primeira prata do skate. Rompemos as barreiras e a voamos contra a gravidade para levar o bronze nos 400m e no salto com varas. Firmes braçadas quebraram críticas e preconceitos e trouxeram o ouro na maratona aquática e bronze nos 50 livres. Italo, Rayssa, Alisson, Thiago, Ana e Bruno. Os jogos deixam a lição de que não somos apenas o país do futebol.
O que falar da querida Rebeca, primeira brasileira medalhista olímpica, prata no individual geral e ouro no salto. Mais do que o metal pendurado no pescoço, Rebeca deixa um legado de empatia e humanidade. O carisma, o sorriso sincero e as palavras puras e firmes de quem fez do solo japonês um playground para levitar suas apresentações quase descompromissadas.
Chegar ali, para a filha da Dona Rosa Santos, já era um marco. Rebeca já tinha entrado para a história pela superação das lesões e três cirurgias, chegando a quase desistir da carreira. O Brasil agradece, Rebeca, por não ter sido essa a sua decisão.
A história da ginasta remonta tantas outras, de jovens que vêm da base da pirâmide, passam por projetos sociais, acreditam, lutam e vencem no esporte e na vida. Prova de que os desportos podem gerar oportunidades para milhões de brasileiros. Foi assim com Ítalo, menino que usava a tampa da caixa de isopor que o pai vendia peixes, para suas atividades esportivas.
Histórias como as contadas nas Olimpíadas que se encerram comprovam que todos nós sabemos e que parafraseio toda a sapiência de Euclides da Cunha, para afirmar que o brasileiro é, antes de tudo, um forte.
A cada nova edição lutamos, suamos, rimos e choramos, mas sempre mostrando ao mundo o jeito peculiar brasileiro de que o importante é competir. Chegar aos jogos olímpicos já é uma vitória que se leva no currículo para o resto da vida.
Ser brasileiro é ter o espírito esportivo de um Vanderlei Cordeiro, que em Atenas 2004 liderava a maratona, foi atrapalhado por um espectador nos metros finais, perdeu segundos e o ritmo, persistiu e vibrou com o bronze, como se pouco importasse a posição ou a cor da medalha.
O perdão de coração puro ao seu algoz foi um gesto que lhe rendeu, de forma inédita na América Latina, a Medalha Pierre Coubertin. Esta é a maior honraria concedida pelo Comitê Olímpico e representa o verdadeiro espírito humanitário-esportiva que os jogos representam.
Uma pena que em Tóquio também vimos atitudes reprováveis, como a do tenista Djokovic após desclassificação; testemunhamos, mais uma vez, o arrogante francês Lavillenie ficar fora do pódio novamente no salto com vara, atrás do nosso Thiago; e até a velocista bielorussa Krystina ser levada “a força” para o aeroporto pela delegação do próprio país, após críticas à delegação.
Vimos nações pequenas, com pouca expressão, tentar superar suas limitações, tal como acontece com muitas modalidades aqui no Brasil. Vimos solidariedade, companheirismo, manifestações políticas, apoio no choro e palmas no sorriso.
A origem das Olimpíadas remontam os tempos antigos, séc. VIII a.C. em Olímpia, na Grécia. Mais tarde, já no séc. XIX, os jogos ganharam novos contornos e vêm evoluindo a cada nova edição. Uma coisa, no entanto, é certa: os jogos definitivamente se tornaram um espaço do pensamento plural que deve ser a marca principal da sociedade.
Hoje, representa a união dos povos, devidamente representada na bandeira do COI, e tem o poder de congregar o mundo em torno do esporte. Não podemos esperar, no entanto, apenas lições positivas, visto que é feita por humanos, mas que possamos ter sempre a capacidade de aprender com as lições olímpicas. Paris, 2024, é logo ali.
Osmar Gomes dos Santos, Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras