*Por Osmar Gomes dos Santos
A intenção de reunir líderes mundiais para debater, durante dias, medidas que possam contribuir para a redução da degradação ambiental sempre será louvável. Falar de meio ambiente é plantar sementes na consciência das gerações atual e futura.
Por falar em futuro, já não devemos pensar em preservar pensando no amanhã, visto que os efeitos já são sentidos aos quatro cantos do globo. A cada nova temporada, furacões mais destrutivos, chuvas mais intensas, enchentes e enxurradas que varrem comunidades inteiras do mapa.
Já sentimos todos os efeitos e as intervenções para frear essa problemática precisam ser efetivas e colocadas em prática para já. Não pelo fato dos efeitos devastadores já nos alcançar, quando imaginávamos, há pouco tempo, que chegariam apenas às gerações futuras. Mas em função de podermos constatar, inclusive aqueles mais céticos, que aquilo que ambientalistas vêm dizendo já há algum tempo não é mero discurso retórico.
Trata-se de avisos, sinais, devidamente fundamentados na ciência. Não devemos tomar tais especialistas e seus estudos como mensageiros do caos. Ainda que quiséssemos, seria incoerência esse caminho, diante da constatação dos problemas atuais.
Por conseguinte, estudos e pesquisas servem para refletirmos, especialmente lideranças globais, que parecem muito mais preocupadas com o recorte no discurso e a pose para foto que vão alimentar uma posição de engajamento com a causa mundo afora.
Neste tocante, é lamentável ausência de uma potência como os Estados Unidos, cuja história o posiciona como maior poluidor e no cenário atual só está atrás da China, outra potência que ainda não dá sinais claros de redução na emissão de gases poluidores.
Em relação ao amigo do Oriente, apesar de um forte plano de transição para energia limpa em curso, cumpre destacar que a mudança é bancada com um alto custo para o meio ambiente, à base da queima do carvão mineral, um dos componentes mais danosos ao planeta Terra.
Custo este que não poderá se estender a outras nações. Imagine se, pelo menos, outros dez países iniciarem um processo de crescimento no padrão chinês… A Terra, certamente, sucumbiria. A capacidade de renovação é incompatível com as agressões que lhe são feitas diariamente.
Nesse sentido – muito mais que poses, discursos, sorrisos, apertos de mão e promessas para formação de um fundo que já se mostra insuficiente -, é preciso compromisso com o corte no uso de combustíveis fósseis emissões, desmatamento, queimadas.
De que valerão alguns bilhões de reais (ou dólares) que não poderão comprar o ar puro, a água potável, a floresta densa, o solo fértil, os rios caudalosos e cheios de vida? Não são produtos que estão em uma prateleira, cuja compra e reposição se resolvem com a assinatura de um cheque.
Bem como se costuma dizer, há situações em que o dinheiro muito vale tanto quanto o pouco. Pensemos, por exemplo, um paciente em estado terminal de câncer, já desenganado pelos médicos. Do que valerá uma conta pomposa que não poderá lhe devolver a saúde? Assim caminha a Terra, em um corredor que a leva diretamente para a UTI, de onde cifras não poderão mais retirá-la.
No rol de incoerências, por que não citar aquela do país anfitrião? Protagonista, o Brasil vai muito bem de retórica, enquanto tenta freneticamente avançar com a exploração do petróleo na foz do Amazonas, mesmo diante de estudos que mostram impactos danosos.
O petróleo traz desenvolvimento? Possível que sim. O dinheiro compra muita coisa. Mas, ao analisar toda nossa riqueza e a possibilidade de exploração dela, fica mais uma pergunta: não já temos riqueza suficiente para explorar de forma sustentável em nosso país? Precisamos mesmo do ouro negro para bancar nossa transição energética?
Acompanho eventos, debates e ações visando à preservação ambiental desde a Eco-92, evento realizado na Cidade Maravilhosa, para debater justamente os danos ambientais trazidos pelo dito desenvolvimento, especialmente pelas grandes nações.
O que mudou de lá pra cá? Muita coisa, óbvio! Mas para pior. Entramos na pior fase do aquecimento global e os sintomas vem sendo demonstrados pelo planeta nas mais diversas oportunidades.
Atualmente, a COP é realizada anualmente, com investimentos de milhões (às vezes bilhões) de reais pelo país anfitrião. Espera-se, minimamente, que haja verdadeiramente compromisso com a pauta, a fim de que possamos tirar soluções concretas e garantir a possibilidade de sonharmos com algum futuro.
Osmar Gomes dos Santos é Juiz de Direito na Comarca da Ilha de São Luís (MA).
Membro das Academias Ludovicense de Letras, Maranhense de Letras Jurídicas, da ALMA – Academia Literária do Maranhão e da AMCAL – Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras.





