Por Omar Gomes dos Santos
Não é de hoje que ouvimos a falácia de que o Brasil é o país do futuro. A grande questão é que este tempo verbal parece estar cada vez mais distante, principalmente porque carece de bases sólidas.
Fundo minha análise da semana na pouca atenção dada à Educação. Sob o argumento que parece perene no tocante aos cuidados com a covid, continuamos esticando o prazo para o retorno presencial dos alunos às salas de aula.
De norte a sul, leste a oeste; do Monte Caburaí ao Arroio Chuí, as salas das escolas públicas, na grande maioria, continuam acumulando poeira. A única lição que parece ser passada é que a educação pode ficar para depois.
Não estou aqui a defender qualquer posição contra a ciência. Não adoto a postura negacionista e ao longo da pandemia sempre destaquei a importância do atendimento e respeito às medidas protetivas.
Acontece que a vida, apesar da oscilação nos números de contágio, já voltou a uma “certa normalidade” ainda em 2021. Vários setores retomaram suas atividades, inclusive aqueles mais prejudicados, cujas previsões de retomada apontavam para os últimos no pós-pandemia.
Os ônibus continuaram lotados, o comércio funcionando, as repartições públicas mantiveram o atendimento à população. Naturalmente esse funcionamento estava cercado dos cuidados necessários à contenção do contágio, adotando-se as medidas básicas de prevenção.
Voos foram retomados, viagens passaram a ser novamente realizadas, hotéis alcançaram percentuais de ocupação do nível pré-covid. Pontos turísticos, bares, restaurantes, casas noturnas voltaram a reunir pessoas em momentos de lazer e descontração. Mas e a educação?
Esta mesmo com a retomada em alguns estados em meados do segundo semestre do ano passado, a realidade ainda parece longe de retomar ao normal. A grande maioria dos alunos da rede pública perdeu um ano inteiro, enquanto outra parcela teve prejuízo de dois anos no histórico escolar.
Como num jogo de paradoxos, as tentativas de promover aulas remotas esbarrou justamente na pouca capacidade tecnológica do país, um problema educacional estrutural.
Por relegar por décadas a educação como assunto menos importante, ainda que assentada nas bases retóricas de todo discurso, fomos incapazes de assegurar, quando necessário, que as ferramentas educacionais estivessem ao alcance de todos.
A quem pensar diferente, já antecipo meu respeito à opinião, ao passo que já peço licença para manter minha discordância. Vide as escolas e faculdades particulares, cujo aparato tecnológico permitiu a continuidade das atividades de forma quase regular, sem grandes prejuízos.
Como pretender um país com menos desigualdade se a condição maior estruturante de uma nação, não chega a todos de forma igualitária? O abismo tende a crescer, como já mostram alguns estudos publicados.
Sem querer me inclinar para um determinismo pessimista, penso que se não impossível, ficará ainda mais difícil para o filho do pedreiro, da faxineira, do lavrador, virar um doutor. A deficiência em garantir a continuidade nos estudos para os filhos dos pobres tenderá a ampliar o abismo entre os mais abastados nas cadeiras universitárias.
A Educação não pode ficar para depois. Faz-se urgente a retomada efetiva das aulas. Da mesma forma é preciso um plano de efetiva recuperação para o tempo perdido, sob pena de continuarmos a amargar o velho sonho não realizado de uma país do futuro.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.