*Por Osmar Gomes dos Santos
Ser professor na rede pública de ensino do Brasil tem se tornado um desafio cada vez difícil de ser enfrentado. Afora os baixos salários, as péssimas condições de trabalho e a falta de apoio para qualificação permanente, esse profissional agora precisa lidar com os problemas sociais que desaguam nas salas de aula.
A violência está presente nas salas de aula. Não se trata de afirmação tola, alheia aos acontecimentos, mas baseiam-se neles. Pelas telas que chegam aos nossos olhos ou pelas conversas com pais e mesmo com professores.
Todos os dias um caso novo, sempre uma história a relatar. Tenho amigos e amigas educadores, minha esposa era educadora, e as conversas que já tive com muitos deles revelam que mesmo quem nunca sofreu uma agressão física direta, certamente precisou ceder para não se tornar mais um número na estatística.
Estratégias de sobrevivência são colocadas em prática, conforme o perfil dos alunos, a rotina e a localização da escola. Em bairros mais violentos o problema se torna ainda maior.
Há casos que a disciplina não funciona, aplicar notas baixas como medida de avaliação refletindo o baixo desempenho pode significar o início de uma grande tensão entre professor e aluno. Outro fator de permanente tensão tem sido o bullying, que precisa ser identificado e eliminado da cartilha de bons modos.
De forma crescente, temos visto atentados contra instituições de ensino e seus profissionais, o que nos deixa a todos estarrecidos. O caso da professora assassinada em São Paulo, no dia 27 de maio, repercutiu no mundo, mas parece não ter sido necessário para acender o alerta e conter novos casos.
Logo na sequência, dia 28, no Rio de Janeiro, um aluno foi detido após tentar esfaquear colegas de sala. No mesmo dia, em escola da zona Rural de Caxias, Maranhão, um aluno efetuou disparos dentro da unidade de ensino. Os alvos, a diretora e um amigo de sala. Felizmente o plano não se concretizou. Mais recentemente, foi o caso de Blumenau, onde quatro crianças foram violentamente assasinadas. Que horror.
Para a sociedade muito do que acontece de forma velada dentro das salas ainda pode constituir um tabu e apenas causa espanto quando veiculado na mídia. No entanto, este assunto é uma realidade e comum nas rodas de conversa de muitos educadores.
A consequência, quando não há uma agressão direta, esses profissionais apresentam problemas de ansiedade, síndrome de pânico, depressão, baixo autoestima. A educação, ou melhor, o sistema educacional, também contribui para gerar sérios problemas de saúde.
Ensinar deveria ser a mais nobre e valorizada profissão. A pedagogia deveria e deve ser desenvolvida com prazer e alegria no compartilhamento de saberes e na transformação do conhecimento.
Chegamos ao ponto de perguntar se estamos errando enquanto educadores ou se os episódios vistos apenas refletem o comportamento de uma sociedade cada vez mais violenta.
Não se pode permitir que mensageiros do apocalipse prenunciem a morte da nossa educação, sob pena de termos falhado enquanto nação naquilo de mais essencial.
Em que pese o sistema educacional no Brasil caminhar a duras penas, temos bravos e combatentes educadores que continuam nessa linha de frente. Esses profissionais seguem, com suas armas engatilhadas: o livro em uma mão e a caneta na outra.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.