*Por Osmar Gomes dos Santos
As eleições de 2022 acentuaram a tensão verificada no ano de 2018, especialmente entre direita e esquerda no Brasil. Bandeiras ideológicas e práticas distintas separam propostas que ao cabo ainda parecem obscuras.
O tom bélico pelo qual as campanhas enveredaram impossibilitaram um debate maduro e necessário acerca do país. A resposta de qualquer brasileiro para a pergunta simples, sobre o país que deseja, parece não ter sido alcançada pelos candidatos.
Falo aqui de todos, sem preferências ou preterições, como um cidadão que almeja um Brasil mais justo e equânime. Equidade esta que, embora não seja plena, seja como a pensada por Hannah Arendt, enquanto direito a ter direitos.
O momento eleitoral é tido por muitos como um dos mais importantes. O dia em que a liberdade de escolha se encontra com o exercício da cidadania é resultado da estrutura basilar do processo democrático. Cujo direito, está assegurado constitucionalmente pelo aparelho estatal e pelos agentes de Estado que trabalham antes, durante e depois do fechamento das urnas para garantir que a vontade popular seja soberana.
Entendo que neste conjunto de ingredientes, não pode faltar, que reputo fundamental: o debate em torno de um projeto de nação. Há muito vemos frases de efeito como o país do futuro ou que a educação é a base de uma sociedade, mas que não passam de retórica.
Neste país do futuro, ainda não se investe adequadamente em saúde, educação, desportos, lazer, cultura, infraestrutura, geração de emprego e renda. Não se promove um debate maduro sobre o pluralismo e a diversidade, que são a marca do povo brasileiro.
Temas envolvendo a mulher, a criança, o idoso, o negro, o índio, os povos tradicionais e a população LGBTQIA+, apenas para citar alguns, estão fora da pauta de discussão. Aliás, esses e outros temas importantes passam ao largo de um debate sério.
Por falar em abismo de ideias e propostas, o debate, que precedeu as eleições do primeiro turno deixou evidente e sustenta esse meu ponto de vista. Realizado tarde da noite, tomou o tempo do trabalhador que no dia seguinte teria que estar de pé antes do sol raiar.
Os que arriscaram lutar contra o sono e o cansaço, como eu, não tiveram motivos para se alegrar. A não ser aqueles que vibram quando a arena política se transforma em campo de batalha no qual vale tudo: agressões, mentiras, difamações. Clima este que em certa dose vemos se reproduzir nas ruas.
Um desserviço com a cidadã e o cidadão que resolveu por dar um crédito ao que entendia ser um momento importante para a definição do voto. Temas de grande relevância nacional deram lugar à troca de farpas e de acusações.
A descrença de muitos está refletida nos dados extraídos do processo. Apesar do clima de normalidade e do excelente trabalho realizado pela Justiça Eleitoral, que embora tenha, mais uma vez, um alto índice de votos brancos e nulos e novamente uma alta taxa de abstenção.
O Brasil enfrenta um cenário mundial que exige cautela e um ambiente interno de certa forma hostil. A dívida pública cresce, o teto de gastos vem sendo ultrapassado, a economia anda cambaleante e os desafios sociais são inúmeros.
A campanha para o segundo turno começou. Esperamos que o bom senso retorne e prevaleça e possa produzir um clima de paz e harmonia, capaz de criar um terreno fértil para a proposição de iniciativas que possam colocar o país nos trilhos.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.