*Por Osmar Gomes dos Santos
A população mundial cresceu! Nações entraram em um frenético ritmo de mudanças que ainda não me convenci se trata de progresso, evolução desenvolvimento ou se apenas uma disputa incessante na qual buscamos superar nossos comuns a todo custo.
Criminosos estão de plantão para cometer os mais diversos tipos de delitos, com destaque para os cibernéticos que envolvem golpes, invasão de dispositivos e roubos de dados sensíveis e acessos a informações financeiras e confidenciais; porém o alerta que mais nos interessa aqui é o que devemos adotar com as nossas crianças. Em uma conjuntura social na qual nos acostumamos a dizer sim para tudo, é preciso entender que há limites a serem colocados e alertas a serem feitos de forma permanente.
O caso da menina de 12 anos que foi sequestrada e mantida em cárcere privado na última semana, teve repercussão nacional e causando espanto a todos. Ao mesmo tempo, nos traz diversos alertas sobre cuidados a serem tomados quando acessamos “o mundo” pelo nosso celular.
Outro aspecto que traz impacto é que a mesma criança de 12 anos, segundo o homem que a sequestrou e dela abusou, já mantinha contato desde quando a mesma tinha apenas 10 anos. Ela no Rio de Janeiro e ele em São Luís. Parece roteiro de ficção moderna com traços de uma realidade que extrapola a razoabilidade, mas foi assim mesmo que aconteceu. Troca de mensagens, viagem ao Rio, sequestro, uma corrida de aplicativo e ambos estavam em terras ludovicenses. Soa estranho, entretanto essa é a versão do abusador.
O bizarro é que a história parece ter muitas pontas soltas. Ida a outro estado, busca na porta da escola, um motorista que topa cruzar mais de 3 mil quilômetros, alimentação e hospedagens. Além do fato de, em tese, não ter o motorista do app desconfiado de absolutamente nada ao longo de, pelo menos, três dias de viagem.
Conversa para boi dormir (como dizem os mais velhos) ou não, o fato é que o crime foi cometido e uma criança, infelizmente vítima do criminoso. O alerta cabe a todos nós: pais, mães, parentes, professores, autoridades, sociedade.
Como pode um criminoso estar ao mesmo tempo tão longe e tão perto? A transformação mundial, que vem a reboque das tecnologias, nos transportam para além fronteiras de uma vasta aldeia global e ao mesmo tempo, traz perigo para dentro da nossa casa. Inocentemente, abrimos as janelas para criminosos e a pessoas más intencionadas. Simples joguinhos, aplicativos, redes sociais, podem esconder perigos, notadamente para as crianças, muitas delas ainda sem devida razão para discernir o certo e o errado, o bem e o mal.
Talvez as plataformas tenham uma dose de culpa, pois deveriam possuir mecanismos mais seguros para confirmar a idade dos usuários; todavia o cuidado maior deve estar dentro de casa. Estar atento a tudo e a todo momento.
Não falamos aqui de quebra de privacidade, mas de autoridade que deve existir na relação entre pais e filhos. Conhecer os colegas, saber com quem conversa, monitorar aplicativos ou mesmo nem autorizar o uso de alguns.
Em um mundo de aparências que navegam nos bits das redes sociais, crianças estão cada vez mais buscando espaço nesse mundo virtual, passando a alvos fáceis de facínoras de plantão. Ao pior enredo Chapeuzinho Vermelho dos tempos modernos, pedófilos, estupradores, charlatões e lobos estão na espreita, disfarçados de amiguinhos, amiguinhas, vovozinhas.
Onde nem tudo que parece é, todo cuidado é pouco e a vigilância tem que ser redobrada. Tecnologias são importantes e estão cada vez mais presentes em nossas vidas, porém é preciso que se use com responsabilidade, ou melhor, que ainda se permita a concorrência com bons livros, programas educativos e hábitos saudáveis.
Por fim, estabelecer relações transparentes, com base no diálogo, ainda parece ser o melhor caminho para se alcançar o nível de maturidade e confiança desejados, tudo no tempo certo. Lugar de criança não é nas redes, mas nos bancos de escola, brincando de bola ou de boneca.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís.Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.