Ele chega, sorrateiro. Calado, sem nada avisar, sem dar qualquer sinal. Discreto, apenas chega. Dono de si. Destino!
No famoso Dicionário Michaelis, é apresentado com uma gama de significados, tais como série de fatos a que supostamente estão sujeitas as pessoas e as coisas; fatos supostamente considerados fatais que constituem a vida de alguém; aquilo que está por vir; desfecho ou resultado final.
No que diz respeito à sucessão de acontecimentos a pessoas ou coisas, é comum a total ingerência humana. São ocorrências que virão, mesmo sem que se possa prever, e sobre as quais a vontade humana nada pode fazer, posto que não lhe cabe o controle.
Assim é o destino. Não importa a cor, credo, religião, as posses ou qualquer outra característica que defina o ser, o destino vem para todos, todos os dias. Circunstâncias que parecem sofrer mudanças devido à ação humana, nada mais são do que ele agindo, silenciosamente.
Aceitar? Para alguns é o que resta. Outros, mais insistentes, dirão que o destino é algo que podemos mudar, sobre o qual podemos fazer algo, ou pelo menos agir preventivamente. Talvez.
Não importa a linha que você adote, seja a partir da omissão e conformismo, aceitando a vida como se apresenta; seja agindo frente às adversidades, a partir das ações, planejadas e orientadas, há de se chegar a um resultado. Em comum, nos dois casos? Ele, o destino.
Está presente em tudo. Justifica o fracasso: não deu porque não tinha que dar certo, eu não nasci para isso, é meu destino e tenho que aceitar. Tal como ratifica o sucesso: tinha que dar certo, depois de todo esforço e dedicação o resultado não poderia ser outro. Vencemos!
Obra divina, seja lá qual for a divindade a se adorar? Resultados do esforço, dedicação? Efeitos da omissão e conformismo? O que está escrito neste livro cujos capítulos só vamos conhecendo na medida em que avançamos linha por linha, página por página?
Destino que paradoxalmente traz a alegria da vida, com o primeiro choro. Ao mesmo tempo deixa a tristeza da morte carregada de um ensurdecedor silêncio. A quem se foi, por obra do destino, nossas homenagens póstumas, tal como oportunamente as faço ao seu Didi, ex-vereador de Cajari e amigo de longas jornadas.
Seu Didi que durante sua vida sentiu na pele a força do destino, da vida sofrida em terra de poucas oportunidades. Viu muitos abandonarem suas raízes para iniciar uma empreitada rumo ao desconhecido, na esperança de dias melhores.
Foi homem público de reputação irretocável, dirigiu o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cajari e exerceu com zelo o papel de pai, de marido e de amigo exemplar. Quis o destino que fosse ele um homem no qual se inspirar, quis o destino que chegasse o seu momento de partir.
Rumou ao encontro de seu destino, aquele com o qual todos nós, indistintamente, vamos nos deparar em algum momento. Seria este o único destino propriamente dito? Seriam os acontecimentos da vida apenas sucessões de etapas de um destino que se configura como algo muito maior e que está acima da nossa capacidade de compreensão?
Insensato e incompreensível destino, cantado em todos os ritmos, das modas de viola ao rock’n roll. Lamúrias, alegrias, sofrimento, contentamento; narrado, contado, poetizado, cantado. Palavra com muitos significados, mas ainda indefinida em sua plenitude.
Está nas rodas de conversa, nas discussões futebolísticas e até políticas. Se o assunto é falar de futuro, então é dar pano pra manga, linha pra pipa. Ele é figura certa, protagonista, nas mãos de quem nos entregamos ao afirmar: o que tiver que ser será, o destino a Deus pertence.
Estar no lugar errado na hora errado é, lamentavelmente, culpa do destino, puro azar; tal como estar no lugar certo na hora certa, pode ser encarado um acontecimento de extrema sorte. Mas o que é azar e o que é sorte? O que é certo ou errado? É tudo e nada, ao mesmo tempo, uma coisa só: destino. Bom ou ruim, sempre o defino com uma visão particular, a partir das experiências que me traz.
Ironicamente, quis o destino que hoje me curvasse a rascunhar algumas linhas justamente sobre ele. Ousei aprofundar no desconhecido, ao passo que percebo a imensidão de mistérios submersos em um oceano de incertezas.
Ao cabo destes rabiscos, ao que poderia classificar como destino, a única coisa da qual saio convicto é que ainda teremos outras boas prosas pela frente. Certamente voltaremos a nos esbarrar pelas encruzilhadas da vida, onde ele estará, sorrateiro a me espreitar.
Osmar Gomes dos Santos, Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras