*Por Osmar Gomes dos Santos
Parece tardio, mas ainda faz-se necessário falar sobre a ponte Juscelino Kubitschek, que desabou em Estreito, no Maranhão-Tocantins.
Junto com a infraestrutura, ruíram os pilares de várias famílias alcançadas pela tragédia. Foram 15 vítimas fatais, sendo que 11 destas, já foram encontradas.
Esquivei-me em falar de pronto para evitar qualquer tipo de julgamento moral antecipado, sem base necessária para falar sobre algo tão importante. A imprensa fez um trabalho excepcional desde então, apurando e trazendo informações a todos nós, ficando, aqui, o reconhecimento a essa importante “instituição”.
Por outro lado, tivemos uma forte atuação dos órgãos que atuam no atendimento a desastres: socorristas, bombeiros e defesa civil. O apoio da Marinha, é importante destacar, tem sido crucial.
Faço um parêntese em meus pensamentos e fico a imaginar se esses órgãos e pessoas, tão essenciais nessas horas, também retardassem suas ações no socorro às vítimas. Por outro lado, vemos o compromisso de agir e se debruçar em favor de desconhecidos.
Ao firmar uma base mínima de argumentos, confesso não saber qual sentimento que toma conta de mim ao saber que o problema já se arrastava há pelo menos 06 anos, cujos relatórios, apontavam a necessidade de intervenção de melhorias na estrutura da ponte.
Isso me traz a confirmação daquilo que há muito tempo defendo, de que não basta que as obras públicas sejam entregues. Elas precisam, sejam quais forem, de monitoramento, não se encerra com seu pagamento e entrega à população, após o corte da fita e as palmas.
Embora, seja importante a cerimônia de inauguração apenas marca um novo ciclo, baseado no acompanhamento e manutenção preventiva feita de forma regular, ano a ano.
A título de exemplo, a ponte é datada de janeiro de 1961 e, ao que tudo indica, encontrava-se sem qualquer medida de prevenção há anos.
Basta completar o ditado: água mole e pedra dura…
Por isso, defendo que em qualquer projeto de engenharia, exista um plano permanente de manutenção e prevenção às intempéries, que deve acompanhar toda a vida da obra e ser alterado considerando novas tecnologias.
Buracos, rachaduras, armação metálica exposta, estrutura de cimento deteriorada pela ação do tempo. O desgaste era evidente, apesar de não parecer para alguns, só mostra a falta de tal manutenção e de que era necessária e urgente uma ação corretiva.
Investe-se, agora, em alta tecnologia, sondas, drones aquáticos, robôs e outros instrumentos de ponta para mapear a situação e identificar as pessoas. Equipamentos utilizados pelas preparadas equipes de salvamento. Mas que mostra um paradoxo com o descaso e a falta de investimento e manutenção ao longo dos anos.
Após a tragédia, uma solução rápida para construção de uma nova ponte, ao custo de mais de R$ 171 milhões. Ação rápida? Pergunte às famílias das vítimas que foram parar a quase 50 metros de profundidade e daquelas que ainda estão desaparecidas.
Tal construção, agora aprovada “a toque de caixa”, só confirma que é muito mais caro refazer do que garantir a manutenção por reformas. E não falo apenas de valor monetário, contudo, do valor de vidas.
Vidas que se perdem em enchentes, deslizamentos, desabamentos, rompimento de barragem. Retratos das várias tragédias urbanas anunciadas.
Neste contexto, enfatizo,que as pontes foram inventadas para ligar um ponto a outro, diminuir distâncias, seja entre lugares ou pessoas. Distância essa que jamais será superada para os familiares e amigos das 17 vítimas dessa tragédia.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas; ALMA – Academia Literária do Maranhão e AMCAL – Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras.