Tudo começou na cidade de Wuhan, capital da província de Hubei, na China. Suspeitas de que a comercialização e até mesmo consumo de alguns animais silvestres exóticos tenha transmitido aos humanos o que posteriormente foi denominado de COVID-19. Inicialmente as manifestações oficiais de governos e autoridades sanitárias são no sentido de que não há motivos para pânico, mas os acontecimentos mostram um caminho contrário.
O coronavírus não é necessariamente novo, tendo sido detectadas as primeiras infecções em humanos no ano de 1937. Passou a ser denominado como tal em 1965, em razão da descoberta mais detalhada da sua morfologia, similar a uma coroa. Ataca as vias respiratórias e pode causar inúmeras complicações, dentre elas, a morte, especialmente a parcela da população com imunidade mais baixa.
Já se sabe, e isso é comumente explorado nos meios de comunicação, que os vírus podem sofrer mutações ao longo do tempo, devido os fatores ambientais. Provavelmente foi o que ocorreu com o novo agente, descoberto na China no final de 2019. Essa forma mais grave levantou o alerta mundial sobre a doença, que já ocasionou milhares de mortes e tem causado um grande estrago na política e na economia mundial.
Sob o pretexto de não criar pânico, que soa mais como uma tentativa de frear os impactos negativos na economia mundial, o ponto central no tocante à saúde pública foi ficando de lado. Passados pouco mais de dois meses, não há mais como dizer que não existem motivos para alardes. A doença é grave, se espalha fácil e rapidamente, já infectou mais de 125 mil pessoas e é letal!
Embora os anúncios frequentes para que o clima se arrefeça, não dá para negar a gravidade da situação. A China, epicentro da doença, é um dos países mais influentes no mundo, possuindo a segunda maior economia, maior mercado consumidor de inúmeras commodities e é também uma exportadora de tecnologias.
Tudo que ocorre no país com mais de 1 bilhão de habitantes é calculado no superlativo, assim como o estrago que hoje o vírus provoca. Vale lembrar que Hubei é uma das províncias da China mais prósperas e Wuhan possui intensa atividade industrial e comercial, considerada o centro político, econômico, comercial e educacional da China Central. Possui uma eficiente logística, com rodovias e linhas férreas interligando outras cidades.
Apesar da desaceleração na contabilização de novos casos na China, a doença chegou a outros continentes e continua por se alastrar. Fora da China, Irã e a Itália são os países que apresentam a situação mais grave da contaminação com, respectivamente, 429 e 1000 mortes decorrentes da doença até o fechamento deste artigo. Somente a república italiana soma mais de 15 mil casos em pouco menos de um mês.
Todo esforço parece ser para acalmar os mercados, mas estão sendo em vão. Isso porque em um mundo globalizado, com pessoas e mercadorias se deslocando diariamente entre países, já era de se esperar, até com certa naturalidade, que mais cedo ou mais tarde o problema sanitário alcançasse outros setores, como, de fato, aconteceu.
As bolsas mundo afora vem despencando, justamente porque muitas companhias espalhadas pelo globo estão vinculadas ao frenético consumo chinês. Minério, petróleo, soja, carne, couro, açúcar, maquinário pesado, equipamentos tecnológicos e uma infinidade de outras matérias-primas são amplamente negociadas com os chineses.
Com o surto do COVID-19 as atividades na China foram afetadas, levando à paralisação de diversos setores produtivos que inicialmente utilizavam as commodities como base da sua indústria de transformação. Em movimento contrário, os efeitos foram sentidos por países importadores, que dependem dos produtos chineses em suas economias. E o impacto foi grande.
Naturalmente não se pode reduzir os efeitos econômicos à China, uma vez que os mercados estão interligados e conforme o vírus se espalha gera reflexos imediatos, caso do Irã, grande importador de soja e carne do Brasil. Como em um efeito dominó, os mercados fragilizados afetam companhias e provocam queda sistemática de bolsas de valores dia após dia.
Além desse efeito global, também há perda considerável da atividade econômica local em diversos setores, a exemplo do gastronômico, do turismo, da hotelaria, do esportivo, de logística. A Itália, que depois da China é o país com a situação mais grave, editou um rigoroso toque de recolher. Em Milão, centro financeiro do país, as ruas estão vazias, bares e restaurantes não podem abrir a noite, pessoas estão impedidas de viajar.
Na Inglaterra e na França, eventos esportivos estão sendo adiados ou as partidas estão sendo realizadas com portões fechados, sem torcida. A regra é evitar aglomeração. A exemplo da Itália, outros líderes mundiais têm anunciado medidas drásticas para conter a proliferação da doença. O Japão, que insiste na realização das Olimpíadas, como se o país estivesse imune ao contágio, anunciou que os eventos testes dos jogos ocorrerá de portões fechados.
Nação a nação, o COVID-19 vem causando uma avalanche de prejuízos econômicos, uma vez que as atividades impactadas estão, de alguma forma, ligadas a setores geradores de riqueza. Mas não há dúvidas que a maior perda são as vidas humanas ceifadas pela doença.
Intrigante como são os acontecimentos envolvendo a doença. No momento em que estava a refletir sobre a dimensão da “tragédia” a reportagem anuncia que a Organização Mundial da Saúde (OMS) acaba de reconhecer o status de pandemia. O termo diz respeito a uma epidemia em larga escala, que espalha por vários continentes e tem sua transmissão sistemática entre pessoas como característica.
Não se pode querer controlar um vírus letal com coletivas de imprensa e discurso que em poucas horas caem por terra. O caso é grave e necessita de medidas mais drásticas e eficientes por parte de governos e entidades que lidam com a matéria sanitária, em especial a OMS.
Osmar Gomes dos Santos, Juiz de Direito da Comarca da Iha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras